20 de Março de 2015 Dois em cada dez pacientes que se dirigiram a um hospital com sintomas de enfarte no ano passado viram-lhes atribuída pulseira amarela e tiveram que esperar mais tempo do que o desejável, por erro na Triagem de Manchester. Esta é uma das conclusões do balanço de três anos de atividade do Stent For Life, a serem hoje apresentadas, num encontro onde serão também debatidos os desafios da Saúde em geral, e nesta área do Enfarte Agudo do Miocárdio, em particular. Segundo Hélder Pereira, presidente da Associação Portuguesa de Intervenção Cardiovascular (APIC), que apoia em Portugal a iniciativa Stent For Life, a dificuldade em detetar os sintomas de enfarte é uma das principais causas de atraso no atendimento e intervenção nestes doentes. Por um lado, verifica-se um atraso do próprio doente – em particular mulheres e idosos – que tende a dirigir-se pelo seu pé para uma unidade de saúde que não pratique angioplastia primária, ou que, quando os sintomas surgem de noite, espera pela manhã seguinte. Por outro lado, há atrasos relacionados com o sistema, «em que melhorámos mas ainda estamos longe dos objetivos, pois continuamos a ter um tempo muito prolongado de espera na transferência entre unidades de saúde [mediana de duas horas], quando o doente se dirige para um hospital geral e tem de ser transportado para um hospital com cardiologia de intervenção». Outra consequência é o risco de uma análise errada na triagem. «O sistema de Manchester comporta sempre um erro. Se um doente entra num hospital geral com dor abdominal superior (estômago) e vómitos, o algoritmo pode não apontar para enfarte e fica com pulseira amarela. Isto aconteceu em mais de 20% [21,6%] dos casos em 2014», disse Hélder Pereira, citado pela “Lusa”. Neste aspeto, o responsável acredita que a norma da Direção-Geral da Saúde publicada no dia 6 de março «vai ajudar», pois prevê que perante uma dor torácica seja sempre realizado um eletrocardiograma. O desejável, explica Hélder Pereira, é que o paciente, perante uma dor torácica, ligue imediatamente para o 112, para ser transportado pelo INEM para um hospital com angioplastia primária, onde lhe será imediatamente efetuado um eletrocardiograma e detetada a presença, ou não, de um enfarte e realizada a angioplastia primária, se for o caso. Nesta matéria «tem havido uma evolução positiva do número de angioplastias primárias, já ultrapassámos as 300, que é um número razoável para os países do sul da Europa», explicou. Este número traduz perto de uma centena de angioplastias primárias a mais realizadas, quando comparadas com as de 2011 [201], ano em que arrancou o projeto Stent For Life. No ano passado, 37% dos doentes com sintomas de enfarte chamaram o INEM, valor que se mantém semelhante ao de há três anos atrás, mas o número de pacientes que foram para hospitais sem cardiologia de intervenção desceu consideravelmente, de 62% para 46%. Neste balanço é ainda apontada uma fragilidade ao nível das redes hospitalares da zona Centro do país, onde se verificam os maiores atrasos no tratamento destes doentes, por culpa do sistema. «Toda a zona da Guarda, Covilhã e Castelo Branco têm este problema e é um tempo importante que se perde, porque os doentes têm que ser transportados para Coimbra ou Viseu», as únicas localidades na zona com cardiologia de intervenção, explicou. Em relação a esta realidade, Hélder Pereira é da opinião de que «provavelmente faria sentido um centro de cardiologia de intervenção na Covilhã. Ainda por cima, temos lá uma faculdade de medicina. Faz sentido, do ponto de vista académico e do atendimento das pessoas». |