Um artigo científico publicado recentemente na revista científica Cell evidencia os resultados promissores de vários ensaios clínicos em que foram administradas células estaminais mesenquimais a doentes com esclerose múltipla: 40% dos doentes incluídos nestes estudos registaram melhorias ao nível de incapacidade, 32% mantiveram-se estáveis e apenas 18% registaram progressão da doença.
A esclerose múltipla é uma doença neurológica autoimune, com impacto significativo na vida dos doentes. É caracterizada pela destruição da bainha de mielina (o revestimento das células do sistema nervoso), causada por uma resposta desequilibrada do sistema imunitário do próprio doente. Esta neurodegeneração impossibilita a comunicação adequada entre o cérebro e o corpo, levando à disfunção neurológica e incapacidade permanente.
A maioria dos casos é diagnosticada entre os 20 e os 50 anos de idade, sendo mais frequente em mulheres. Estima-se que a esclerose múltipla afete 2,5 milhões de pessoas no mundo e mais de 5 mil em Portugal1.
Assinala-se, anualmente, a 4 de dezembro, o Dia Nacional do Doente com Esclerose Múltipla.
De três estudos destacados na referida publicação científica, um refere-se a um ensaio clínico de fase 1, em que foram incluídos 26 doentes, que receberam células estaminais mesenquimais por via intravenosa. Os doentes foram acompanhados durante seis meses, não se tendo verificado efeitos adversos relevantes nem atividade da doença nesse período.
Num segundo ensaio clínico de fase 1/2, 20 doentes foram acompanhados durante 10 anos após a administração das células estaminais mesenquimais, tanto por via intravenosa como por via intratecal (diretamente no fluido espinal). Além de não se terem registado efeitos adversos relevantes, houve alguma reversão da incapacidade, com melhorias na condição global dos doentes.
No terceiro estudo, 20 doentes receberam entre 2 a 5 infusões de progenitores neurais derivados de células estaminais mesenquimais por via intratecal. Durante os 7 anos que se seguiram foi realizado o seu acompanhamento e não se verificou progressão da doença, tendo em alguns doentes sido registadas melhorias na escala de incapacidade. Nos vários ensaios clínicos realizados, verificou-se que as infusões de células estaminais mesenquimais não causaram efeitos adversos relevantes (apenas febre transitória, dores de cabeça ou cansaço).
Apesar da grande evolução da medicina verificada nas últimas décadas, a esclerose múltipla não tem cura. “Os tratamentos disponíveis atualmente apenas atrasam a progressão da doença, além de apresentarem efeitos secundários significativos. Existe, por isso, a necessidade de identificar novas abordagens terapêuticas, mais seguras e eficazes.”, referiu Solange Craveiro, Técnica Superior de Laboratório da Crioestaminal.
“Dada a sua capacidade de autorrenovação, potencial de diferenciação em vários tipos celulares, o facto de não desencadearem resposta imunitária relevante e o seu efeito anti-inflamatório e regulador sobre o sistema imunitário, as células estaminais mesenquimais apresentam-se como uma potencial alternativa no tratamento de diversas doenças autoimunes, como a esclerose múltipla.”, conclui.