As organizações enfrentam nos dias de hoje uma maior incerteza e complexidade. Três anos passados de pandemia, constatamos que as empresas a um nível global depararam-se com grandes desafios nas oportunidades de mercado, operacionais e na forma de reorganização de modelos de gestão e de recursos humanos. Este tumulto deu origem em algumas organizações, a novos riscos e à procura de diferentes modelos de inovação e experimentação. Como resultado, surgiu a necessidade de inspirar e permitir que os colaboradores de algumas das organizações contribuíssem com o seu conhecimento de maneira oportuna e sincera. Pesquisa e práticas de inovação passaram assim para o topo da agenda organizacional.
A inovação é importante para todas as organizações (a área da saúde não é exceção), dado que é um requisito para a longevidade das mesmas. Para beneficiar da inovação, as organizações devem compreender que a mesma é um resultado (a estratégia de foco é atingir um determinado fim); que é um processo (necessita de formas e meios para ser construída); e que tem que englobar muitas das vezes uma mudança de mentalidades (a nível individual traduz-se como uma mudança de minset individual). Para a organização tem associada uma mudança da cultura organizacional, bem como tem que estar associada à capacidade e à coragem de pensar diferente relativamente aos problemas que se nos colocam no dia a dia.
O Innovation scalling framework da Organização Mundial de Saúde é um exemplo disto, dado que ilustra a abordagem colaborativa de vários parceiros que a OMS está a adotar para expandir a inovação ao vincular três dimensões: i)procura e prioridades de saúde dos países; (ii) fornecimento de inovações prontas a escalar; (iii) e avaliação da inovação num todo, através de parceiros e empresas até ao desenvolvimento e à implementação de inovações (OMS, 2022).
Mas como motivar os recursos humanos a estarem envolvidos no processo de inovação? Existem uma série de boas práticas que impulsionam novas formas de pensar e que estimulam e apoiam a inovação. Uma dessas práticas está ligada à observação, isto é, à capacidade de examinar o comportamento de clientes, fornecedores e concorrentes para identificar novas formas de desenvolver produtos e serviços.
Outra prática possível consiste em experimentar, construindo experiências interativas com os clientes, provocando respostas não ortodoxas para ver que tipo de insights emergem desta interação. Desenvolver networking para conhecer pessoas com ideias e perspetivas diferentes, nomeadamente aqueles que possuem um amplo conhecimento de todos os aspetos de atividade de inovação da área em desenvolvimento, será outra das formas.
Parece-nos importante que as organizações desenvolvam através das suas equipas uma reflexão sobre qual será a mentalidade mais adequada para promover uma inovação centrada nas pessoas, de forma interdisciplinar, colaborativa, holística, integrativa, aberta à aprendizagem e disposta a testar novas ideias (Fonseca, F.; Barros, P. Rendas, A. (2022).
O estabelecimento de políticas de gestão de recursos humanos alinhadas com a liderança e a estratégia da organização tem que ser complementado por uma forte aposta na promoção da inovação para aumentar a competitividade da mesma. A inovação não ocorre apenas como resultado de novas ideias, mas também como resultado da sua eficiente execução organizacional.
Para que ela se cumpra é necessário que os líderes mantenham uma cultura instituída e intrínseca à organização, incentivando e criando condições para que esta decorra na prática quotidiana.
Diversos estudos mostram que as principais práticas que impulsionam a inovação incluem atrair, contratar e reter colaboradores que demonstram características inovadoras (Maier et al., 2014). O desempenho emerge assim como um tema de estudo central nesta disciplina nas últimas décadas, à medida que a consciência do potencial dos recursos humanos e a necessidade de cultura organizacional e direção de gestão da inovação aumentaram.
Fica a convicção de que as lideranças têm um papel fundamental nas organizações para por em prática ideias e concretizar projetos de inovação. Relativamente aos recursos humanos é necessário, em primeiro lugar, agregar e motivar as pessoas internamente para desenvolverem e desenharem estes projetos. Depois do desenho dos mesmos é também importante escolher as pessoas certas, com experiência em determinadas áreas para existir uma garantia de execução, havendo muitas das vezes a necessidade de ponderar e medir a assunção de riscos. Será ainda essencial estimular e apoiar a inovação ao longo de todo o processo, não esquecendo no final a política de premiação e incentivos.
Referências
Breia da Fonseca, Filipa; Pita Barros, Pedro e Rendas, António Bensabat. Inovação em saúde por quem a pratica. Coimbra: Edições Almedina, Janeiro 2022.
Mair, A Brad, S., Nicoara, D., Maier, D. (2014) ‘Innovation by developing human resources, ensuring the competitiveness and success of the organization’, Elsevier, 109, pp.646.
World Health Organization (WHO), Health Innovation for Impact Report, 2022.
Texto de Filipa Breia da Fonseca: Researcher, Health Economics & Management Knowledge Center, Nova School of Business & Economics; Adjunt Assistant Professor, Nova School of Business & Economics, Nova SBE.