A Consulta Farmacêutica e o Acompanhamento de Doentes Crónicos: mais-valias financeiras em Saúde 173

Nos últimos anos, temos assistido a um crescente reconhecimento do papel fundamental dos farmacêuticos no sistema de saúde, especialmente na farmácia comunitária, onde a proximidade com a comunidade e o acompanhamento constante dos utentes criam uma relação única e de confiança. Mas há uma área em particular onde o farmacêutico tem vindo a demonstrar uma capacidade verdadeiramente transformadora: o acompanhamento de doentes crónicos. E, dentro desta prática, a Consulta Farmacêutica é uma ferramenta poderosa, capaz de gerar não apenas ganhos substanciais em saúde, mas também benefícios financeiros consideráveis para o sistema de saúde e para os próprios utentes.

Os doentes crónicos, que representam uma fatia crescente da população, requerem cuidados contínuos e monitorização regular. Doenças como a hipertensão, diabetes e dislipidemia, entre outras, exigem um acompanhamento constante, não só para controlar os sintomas, mas, principalmente, para prevenir complicações e melhorar a qualidade de vida. Nesse contexto, o farmacêutico desempenha um papel central. Não só tem o conhecimento técnico para avaliar a adesão à terapêutica, como possui uma posição única para monitorizar, orientar e educar o utente de forma contínua, ao longo de toda a sua jornada de saúde.

A Consulta Farmacêutica surge, assim, como uma prática inovadora que, desde a sua implementação em Portugal, tem mostrado resultados promissores. Criada para dar uma resposta personalizada e qualificada ao acompanhamento de doentes crónicos, esta não é apenas uma consulta de gestão de medicamentos. Trata-se de um espaço de educação para a saúde, motivação para a adesão terapêutica e, fundamentalmente, prevenção. O farmacêutico, ao acompanhar de perto o utente, pode identificar rapidamente falhas no seguimento da terapêutica, aconselhar sobre alterações de estilo de vida, promover a monitorização de parâmetros importantes (como a tensão arterial ou os níveis de glicemia) e, ainda, trabalhar em colaboração com médicos e outros profissionais de saúde para garantir a abordagem mais eficaz possível.

Este modelo de consulta integrada não é apenas benéfico para o utente, mas também para o sistema de saúde como um todo. A redução de complicações e hospitalizações evitáveis devido ao controle eficaz das doenças crónicas gera uma economia significativa nos custos do sistema de saúde. Menos idas ao hospital, menos tratamentos de urgência, menos complicações graves — tudo isso resulta numa diminuição de custos diretos e, mais importante, numa melhoria da qualidade de vida do doente, o que, por sua vez, tem reflexos positivos na sua produtividade e na sua participação ativa na sociedade.

A prevenção é, sem dúvida, a maior mais-valia da Consulta Farmacêutica. Muitas das complicações graves de doenças crónicas, como o AVC ou a insuficiência renal, são preveníveis com o acompanhamento adequado e a correta adesão à terapêutica. O farmacêutico, com o seu conhecimento detalhado sobre os medicamentos e os efeitos das combinações terapêuticas, é o profissional ideal para identificar possíveis interações, corrigir falhas no tratamento e, principalmente, educar o utente sobre a importância da adesão contínua à medicação e às recomendações médicas. A longo prazo, isso significa menos internamentos, menos tratamentos dispendiosos e, consequentemente, menos custos para o SNS.

O impacto do farmacêutico no processo de educação em saúde também não pode ser subestimado. Ao fornecer informações claras e acessíveis sobre a doença e o tratamento, ajuda o utente a compreender melhor o seu estado de saúde, a fazer escolhas mais informadas e a sentir-se mais no controlo da sua condição. Esse empoderamento do utente resulta em maior engajamento com o tratamento e uma maior adesão às terapêuticas.

Do ponto de vista financeiro, os benefícios da Consulta Farmacêutica são claros. De acordo com estudos internacionais e nacionais, o acompanhamento farmacêutico regular de doentes crónicos pode resultar numa redução substancial de custos para o sistema de saúde. Ao prevenir complicações e hospitalizações, a farmácia comunitária contribui para um uso mais eficiente dos recursos públicos. Menos custos com tratamentos de emergência, menos pressão sobre as unidades de saúde e mais cuidados prestados em ambiente comunitário são componentes chave para uma gestão financeira mais eficaz do sistema de saúde.

Além disso, o investimento na formação e especialização dos farmacêuticos, que têm vindo a desenvolver um conhecimento profundo sobre a gestão de doenças crónicas, pode resultar em maior eficiência no atendimento aos doentes. Essa especialização permite que o farmacêutico seja um profissional cada vez mais valorizado, com capacidade de oferecer serviços de alta qualidade, alinhados com as necessidades de saúde da população. Para além disso, o crescimento da consulta farmacêutica pode abrir portas para um novo modelo de financiamento da farmácia comunitária, baseado em serviços pagos de forma diferenciada, que reconheçam o valor acrescentado por estes profissionais no cuidado contínuo ao doente crónico.

À medida que olhamos para o futuro da Consulta Farmacêutica em Portugal, o desafio será consolidar esta prática como parte integrante do sistema de saúde, garantindo que todos os utentes, especialmente os crónicos, possam beneficiar deste acompanhamento próximo e especializado. Será fundamental garantir que os políticos e gestores de saúde compreendam o valor desta prática, não apenas do ponto de vista da saúde, mas também da eficiência financeira. O farmacêutico comunitário tem a capacidade de ser uma peça chave na resolução dos desafios que o sistema de saúde enfrenta, e a Consulta Farmacêutica é a prova viva de como a integração e a inovação podem transformar o modelo tradicional de cuidados de saúde.

O caminho não será fácil, mas é uma caminhada que vale a pena. E, como sempre, podemos contar com a nossa dedicação e compromisso para transformar a saúde em Portugal, dia após dia, paciente após paciente, consulta após consulta.

Catarina Dias

Candidata ao Conselho do Colégio de Especialidade de Farmácia Comunitária da Ordem dos Farmacêuticos (Lista E)