A Consulta Farmacêutica Oncológica em Farmácia Comunitária: Benefícios para Doentes e Cuidadores 1003

As patologias oncológicas, representam um dos maiores desafios de saúde pública em Portugal e no mundo, exigindo uma abordagem multidisciplinar que inclua o papel ativo dos farmacêuticos comunitários. A consulta farmacêutica oncológica em farmácia comunitária surge como um serviço essencial para complementar os cuidados prestados aos doentes oncológicos e também como forma de dar suporte aos seus cuidadores. Visa melhorar a adesão terapêutica, o controlo de sintomas e da qualidade de vida, assim como reduzir os internamentos, a morbilidade e a mortalidade por todas as causas.

A consulta farmacêutica oncológica tem como principais objetivos:

  1. Melhorar a adesão terapêutica – O regime terapêutico oncológico pode ser complexo, envolvendo medicamentos orais e injetáveis, tratamentos adjuvantes e terapias sintomáticas. O farmacêutico tem um papel crucial na orientação dos doentes quanto à posologia, horários, interações medicamentosas e estratégias para evitar esquecimentos.
  2. Gerir os efeitos adversos e sintomas – Muitos doentes oncológicos experienciam efeitos secundários significativos, como náuseas, vómitos, mucosite, fadiga, prurido e outros problemas de pele, neuropatia e diarreia. A consulta permite educar sobre medidas preventivas e terapias de suporte, melhorando o bem-estar e reduzindo complicações.
  3. Prevenir interações medicamentosas e nutricionais – A polimedicação é comum entre doentes oncológicos, podendo ocorrer interações entre medicamentos oncológicos e outros fármacos ou suplementos. Muitos doentes oncológicos são  diabéticos, hipertensos ou portadores de alguma doença crónica, o que aumenta ainda mais a prevalência da polimedicação, incrementando exponencialmente os riscos associados a interações. O farmacêutico avalia potenciais interações e aconselha sobre ajustes necessários. A perda de paladar, as náuseas e outros sintomas, impedem muitas vezes o doente de se alimentar adequadamente, pondo em risco a sua capacidade de suportar as exigências físicas de um tratamento oncológico. O farmacêutico comunitário deve fornecer informação e suporte nutricional, bem como encaminhamento para um nutricionista clínico se necessário.
  4. Educar sobre cuidados com a pele e mucosas – Terapias oncológicas podem causar reações cutâneas adversas. O farmacêutico recomenda cuidados dermocosméticos adequados e estratégias para minimizar irritações, descamação e fotossensibilidade. Os cuidados de higiene diários e a fotoprotecção adequada aos doentes oncológicos, fazem uma enorme diferença na qualidade de vida dos doentes. Nem todas as marcas existentes no mercado têm estudos clínicos neste tipo de doentes pelo que o aconselhamento farmacêutico é vital.
  5. Promover um acompanhamento contínuo e personalizado – O seguimento regular dos doentes permite detetar precocemente problemas relacionados com a medicação, ajustando recomendações e reforçando a confiança no tratamento.
  6. Apoiar os cuidadores – Cuidadores de doentes oncológicos enfrentam desafios físicos e emocionais. A consulta fornece-lhes informação sobre a administração segura de medicamentos, sinais de alerta e estratégias para melhorar o conforto e a qualidade de vida do doente. Podem ser igualmente selecionados equipamentos como camas articuladas, auxiliares de marcha ou outros dispositivos médicos que facilitem os cuidados diários, reduzindo a pressão sobre o cuidador.

Mas afinal, o que é organizada uma Consulta Farmacêutica Oncológica?

A Consulta Farmacêutica Oncológica deve ter uma linha condutora que nos permita recolher informação e trabalhar as áreas mais relevantes para cada doente. Por norma não é necessário realizar todos os passos/pontos na mesma consulta, mas um acompanhamento personalizado é exatamente isso, ajustar os cuidados prestados às necessidades de cada doente em cada fase do tratamento.

Por norma o tempo de consulta divide-se em:

  1. Primeiro Contacto e início da construção de relação de confiança
  2. Avaliação do Estado Geral de Saúde
  3. Reconciliação da terapêutica e Avaliação e prevenção de interações medicamentosas e com alimentos e suplementos.
  4. Discussão de caso e definição do Plano de Cuidados Personalizado
  5. Desenvolvimento da literacia em saúde e gestão de efeitos colaterais
  6. Definição de Plano de Monitorização Contínua
  7. Suporte Nutricional – Avaliação inicial e cuidados personalizados
  8. Gestão da Dor e Efeitos secundários da medicação
  9. Ensino sobre o uso de dispositivos médicos
  10. Apoio Psicológico e mental
  11. Coordenação dos cuidados globais com equipa de saúde, suporte social e cuidadores
  12. Definição de plano de acompanhamento

A implementação da consulta farmacêutica oncológica em farmácia comunitária traz inúmeras vantagens: O suporte farmacêutico permite um alívio mais eficaz dos efeitos secundários, reduzindo a necessidade de hospitalizações e consultas de urgência; A farmácia comunitária é um ponto de saúde de proximidade, permitindo que os doentes obtenham orientação rápida e sem necessidade de marcação prévia; A revisão regular da terapêutica minimiza riscos de interações medicamentosas e otimiza o uso racional de fármacos; A relação de proximidade entre farmacêuticos e doentes promove um ambiente de confiança, onde os doentes e cuidadores se sentem apoiados e esclarecidos. Desta forma, a consulta farmacêutica oncológica em farmácia comunitária desempenha um papel fundamental na gestão da doença oncológica.

A acessibilidade e proximidade dos farmacêuticos comunitários tornam-nos elementos-chave no acompanhamento destes doentes, reforçando o papel da farmácia comunitária como um pilar essencial nos cuidados de saúde integrados.

Catarina C. Dias

Especialista em Farmácia Comunitária e membro da Sociedade Portuguesa de Farmacêuticos dos Cuidados de Saúde (SPFCS)