O Núcleo de Estudos de Geriatria (NEGERMI), O Núcleo de Nutrição Clínica (NENC) e o Núcleo de Estudos de Medicina Paliativa (NEMPal) da Sociedade Portuguesa de Medicina Interna (SPMI), em parceria com a Associação Portuguesa de Nutrição Entérica e Parentérica (APNEP), elaboraram um documento informativo que visa consciencializar para as orientações existentes relativas à abordagem dos problemas alimentares nos doentes com demência avançada.
“A demência é uma síndrome neurológica de agravamento progressivo, sem cura, cuja prevalência tem vindo a aumentar devido ao envelhecimento da população. Existe um grande desconhecimento entre profissionais de saúde e cuidadores relativamente à melhor abordagem da alimentação nos doentes com demência avançada.” explica Ana Pessoa, Internista no Centro Hospitalar do Médio Ave.
Continua: “Na demência avançada, condição terminal em que deve ser privilegiado o conforto do doente, este está habitualmente acamado, necessita de ajuda para a higiene e para a alimentação, e muitas vezes não é capaz de falar. É nesta altura que surgem as maiores dificuldades com a alimentação. Desta forma, alimentar um doente com demência avançada é um desafio para o cuidador. O doente pode perder o apetite, recusar-se a comer ou mesmo engasgar-se com os alimentos. A alimentação por sonda parece ser uma opção óbvia, mas acarreta vários riscos. Como alternativa, recomenda-se a alimentação por via oral de acordo com a tolerância e vontade do doente, denominada por alimentação de conforto. A alimentação de conforto, não sendo a opção ideal, é a menos agressiva e que mais respeita a vontade do doente.
Existem várias estratégias que se podem utilizar para otimizar a alimentação via oral nestes doentes. Do ponto de vista ético e legal é legitimo não alimentar por sonda na fase terminal da demência, caso este procedimento seja contrário aos valores da pessoa e não se objetivem benefícios. Esta decisão deve ser tomada após discussão multidisciplinar incluindo o doente (se possível), representante legal, cuidadores, família e equipa de profissionais de saúde envolvidos, elaborando um plano individual de cuidados que permita a tomada de decisões no melhor interesse do doente. “Assim, o conhecimento acerca desta patologia e das opções de alimentação disponíveis é fundamental para podermos melhorar os cuidados prestados a esta cada vez maior e mais vulnerável população de doente”, conclui a internista.