A Inércia não é só Física 129

Entre os corredores do laboratório de análises e a farmácia, fui crescendo convencido de que o
dinamismo que me rodeava era a normalidade, que todos partilhavam. Na urgência de crescer, manteve-se essa impressão, apenas para esbarrar na realidade quando chegou a minha vez de me tornar farmacêutico. Os dinamismos que consegui criar durante o meu percurso académico, nas diferentes associações que liderei, ainda hoje têm um peso brutal na realização profissional.

Cedo percebi que na nossa profissão há muita gente que olha exclusivamente para o seu umbigo. Como nunca me resignei, insisto em agir e lutar, tracei um percurso que me fez encontrar o outro lado da barricada. A boa noticia é que a inércia pode ser vencida. Ao percorrer o meu caminho na distribuição, na farmácia comunitária, em Portugal e no estrangeiro, apercebi-me que há uma força em muitos de nós capaz de impulsionar-nos para o futuro e de derrubar muros mais antigos.

Foi ao longo desse caminho que fui agregando algumas dessas extraordinárias pessoas que conheci, que partilham comigo o desejo de mudança e que hoje se organizam para fazê-lo.

A grande maioria dos colegas sente um distanciamento em relação à Ordem dos Farmacêuticos. Também eu sempre senti. Além da regular interação de pagamento de quotas, chegamos a esquecer que se trata de um Órgão que nos pode representar e fazer tanto por melhorar a nossa profissão. A verdade é que pertencer à Ordem dos Farmacêuticos é encarado como uma obrigação e não como um orgulho. Os representantes não conseguem adquirir a legitimidade de representar, se nunca ouviram quem supostamente representam, sentados atrás de uma secretária, fechados em si mesmos, soterrados sob processos administrativos e burocráticos.

Gostaria de contribuir para que isso possa mudar. Gostaria que colegas que desempenham funções em áreas onde a credenciação da ordem não seja obrigatória, mesmo assim, sentissem o benefício de se manter ligados à profissão e se sentissem representados por este Órgão. É que a Ordem dos Farmacêuticos tem um potencial enorme, pode e deve ser a ferramenta para mudar o paradigma da profissão. Pode ser um elemento congregador, que se foque nos interesses comuns e acentue a partilha de experiências. Que seja transparente, acessível, atenta a toda a região Centro e não apenas a uma cidade. Cabe-nos a todos exigir muito mais a quem se propõe a ocupar tais cargos.

Algo que me reforça o alento é que, desde que encetei os contactos com os colegas durante a campanha para estas eleições da Secção Regional do Centro da Ordem dos Farmacêuticos, constatei que a grande maioria partilha a nossa visão. Vejo o mesmo brilho nos olhos de cada colega, ao ser abordado com clareza e abertura sobre os desafios e preocupações da profissão. E em seguida sempre dizem “sabem bem que não vai ser fácil?!”. Bem sei que não vai ser fácil, mas acredito que podemos trazer o que falta…e só falta ser a alavanca que impulsiona o processo, que vence a mais pesada inércia! Falta acordar uma força tremenda, pô-la em movimento. Falta inspirar a mudança!

Nuno Duro

Candidato a presidente da Secção Regional do Centro da Ordem dos Farmacêuticos (Lista J)