A mulher de César pode ser um influenciador digital? 1482

Sendo o ser humano um animal gregário, a influência de grupos e líderes de opinião acaba por ser um processo natural. Aliás, é exatamente devido a esta capacidade de alterar atitudes e comportamentos, que as marcas procuram usar a seu favor grupos e líderes de opinião.

Em termos dos conceitos que explicam e suportam este processo de influências, as coisas não mudaram muito ao longo dos séculos. No entanto, o advento da era digital trouxe algumas alterações profundas relativamente à identificação de um influenciador.

Basta pensar que, antigamente, estes eram não só num número muito mais restrito, como muito mais facilmente identificáveis. Os líderes de opinião eram, naturalmente, as pessoas que tinham acesso aos mass media: políticos, jornalistas, desportistas, atores, etc. Hoje, com o alcance que as redes sociais permitem, qualquer pessoa pode, em teoria, chegar a milhões de seguidores – chego muitas vezes a pensar que esta é capaz de ser a principal razão porque algumas figuras públicas dizem tão mal do ambiente digital; não será a perda da exclusividade do protagonismo aquilo que realmente as incomoda?

Esta alteração complicou, nem que seja pelo número de envolvidos, o trabalho das marcas e fez aparecer todo um leque de novas profissões, dos bloggers aos instagramers.

Como em quase todos os processos, a novidade acarretou erros e aprendizagens. Uma delas creio que, pelo menos para as marcas mais atentas, já foi interiorizada: escolher um suposto líder apenas pelo número de seguidores pode ser um brilhante disparate. Não só porque estamos num meio em que os números nem sempre refletem a realidade, mas principalmente porque um líder com muitos seguidores, mas com pouca capacidade de empatia com eles, terá muito pouco valor.

No campo dos influenciadores digitais, creio que é preciso inverter o velho ditado da mulher de César: não basta parecê-lo, é preciso sê-lo.

João Barros,
Professor Convidado na Escola Superior de Comunicação Social e
Investigador no Centro de Estudos Clássicos da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa