A propósito da Conferência ICHOM em Portugal 1227

Nos dias 10 e 11 de fevereiro de 2017, decorrerá, na Reitoria da Universidade Nova de Lisboa, a Conferência ICHOM em Portugal. A Conferência ICHOM em Portugal é uma iniciativa conjunta da Nova School of Business and Economics, da Nova Medical School e do Centro Hospitalar de Lisboa Central.

ICHOM é o acrónimo de “International Consortium for Health Outcomes Measurement” – o que pode ser traduzido para português como “Consórcio Internacional para a Medição dos Resultados de Saúde”.

O ICHOM foi fundado pela Harvard Business School, pelo Karolinska Institutet e pelo The Boston Consulting Group, nos Estados Unidos da América, e tem o objetivo de «transformar os sistemas de saúde em todo o mundo medindo e disseminando os resultados dos pacientes de uma forma padronizada» (www.ichom.org).

O ICHOM organiza equipas internacionais constituídas por médicos, investigadores especializados em resultados de saúde, e representantes e defensores dos doentes, para definir conjuntos padronizados de resultados por condição médica. O ICHOM incita depois os prestadores de cuidados de saúde de todo o mundo a compararem os resultados de saúde, que eles próprios produzem, com estes conjuntos padronizados de resultados por condição médica para que os prestadores de cuidados de saúde possam aprender e melhorar globalmente.

Estes conjuntos padronizados de resultados medem os cuidados de saúde com base no valor que os cuidados de saúde produzem efetivamente para o doente. Por valor, entende-se quão melhor ficou realmente o doente por consequência de uma intervenção médica e quanto custou chegar a este resultado. Os conjuntos padronizados de resultados do ICHOM consideram aqueles resultados que são mais significativos na perspetiva do doente. Por exemplo, geralmente os doentes pretendem saber como serão as suas vidas depois de um tratamento. O ICHOM responde a perguntas dos doentes tais como: Poderei voltar a trabalhar? Poderei cuidar de mim? Os sintomas vão melhorar?

Medir os cuidados de saúde com base no valor que os cuidados de saúde produzem para o doente pode realmente ser útil para todos os agentes do sistema de saúde – para os profissionais de saúde, para o Estado/para os financiadores dos sistemas de saúde, para os gestores das organizações de saúde, e, claro, para os doentes.

Esta informação permite que todos os agentes do sistema de saúde passem a fazer escolhas informadas. Os profissionais de saúde passam a saber quais são as práticas clínicas que conduzem aos melhores resultados (aos resultados que interessam para os doentes). O Estado/os financiadores dos sistemas de saúde e os gestores das organizações de saúde podem montar sistemas que premeiam o bom desempenho porque passam a saber exatamente o que é um bom desempenho.

O valor constitui a medida de sucesso. Considera-se que o desempenho dos prestadores de cuidados de saúde melhora quando melhoram os resultados de saúde e não houve um aumento de custos e/ou quando se obtêm resultados de saúde igualmente bons mas com custos inferiores. Esta medida de sucesso pode unificar os interesses de todos os agentes do sistema de saúde porque, com um sistema em que a informação é conhecida por todos e que premeie o bom desempenho, todos os agentes do sistema de saúde podem beneficiar de um aumento do valor, nos termos em que foi definido acima.

Um dos aspetos que vale a pena destacar é que a sustentabilidade económica do sistema de saúde poderá aumentar quando o valor aumenta por consequência dos bons resultados de saúde alcançados (a melhor maneira de não haver custos é não haver doentes) e/ou de uma eventual redução dos custos. Num contexto em que as despesas com cuidados de saúde nos países do mundo ocidental têm tendência para continuar a crescer, com taxas de crescimento que são frequentemente superiores às taxas de crescimento das economias desses países, este aspeto não é menosprezível.

Recentemente, a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE) e o ICHOM assinaram uma Carta de Intenções para que as duas organizações passem a colaborar na recolha, na análise e na publicação de resultados de saúde relatados pelos doentes.

Na semana passada, no dia 18 de janeiro de 2017, os Ministros da Saúde de mais de 35 países da OCDE e de países parceiros discutiram as ambições e os desafios para “The Next Generation of Health Reforms” – em português, “A Próxima Geração de Reformas de Saúde”. Os Ministros da Saúde presentes nesta reunião solicitaram à OCDE que esta progredisse no trabalho de saber como os cuidados de saúde centrados na pessoa podem tornar-se a nova norma nos sistemas de saúde.

A Conferência ICHOM em Portugal reunirá os representantes de todas as partes interessadas na saúde em Portugal e, com eles, discutirá a importância da medição dos cuidados de saúde com base no valor que os cuidados de saúde produzem efetivamente para os doentes, e a eventualidade de Portugal passar a adotar os conjuntos padronizados de resultados do ICHOM, ou outros.

Existe quem se refira a esta conferência como a “web summit da saúde” tendo em conta a importância do tema para Portugal e o perfil dos oradores, nacionais e internacionais, que estarão em Lisboa. O programa pode ser consultado aqui.

O prazo de inscrições termina no dia 31 de janeiro. As inscrições podem ser feitas aqui.

João Marques Gomes

(A coluna Notas da Nova é uma contribuição para a reflexão na área da saúde, pelos membros do centro de investigação Nova Healthcare Initiative – Research. São artigos de opinião da inteira responsabilidade dos autores).