
Imagine uma orquestra onde cada músico domina o seu instrumento com mestria, mas é na harmonia do conjunto que a sinfonia ganha vida. O mesmo deve acontecer na saúde. Cada profissional traz consigo competências únicas e, na convergência desses saberes, constrói-se uma abordagem mais eficaz, integrada e centrada no doente.
Todos sabemos que o Serviço Nacional de Saúde (SNS) enfrenta problemas, desde a política de recursos humanos e a eficiência na sua utilização até ao investimento nos cuidados de saúde primários, a articulação entre cuidados primários e hospitalares, e a organização dos serviços de urgência. Tendo isto em vista, a saúde não pode ser encarada como responsabilidade exclusiva de um único profissional. A integração das diversas áreas das ciências da saúde é fundamental para construir uma abordagem holística, onde cada especialista contribui com a sua formação, visão e experiência, transformando a prática num esforço colaborativo capaz de responder aos desafios da medicina contemporânea.
Enquanto estudante de Ciências Farmacêuticas, tenho testemunhado uma realidade na qual o contacto com colegas de outras áreas da saúde ainda é, em muitos casos, escasso. Essa limitação evidencia a necessidade de uma formação cada vez mais interligada, onde a troca de saberes e a colaboração interprofissional se iniciem logo no ambiente académico. Afinal, é no início da formação que se devem plantar as sementes da multidisciplinaridade, preparando os futuros profissionais para atuarem em equipa e contribuírem para um sistema de saúde mais robusto e integrado.
Nesse sentido, a APEF tem investido no fortalecimento do Fórum Nacional de Estudantes de Saúde (FNES), uma plataforma que reúne estudantes de Medicina, Medicina Dentária, Medicina Veterinária, Psicologia, Enfermagem, Nutrição e Ciências Farmacêuticas. Este espaço de debate e construção coletiva facilita o diálogo entre as diferentes áreas e impulsiona iniciativas que transformam a formação académica, aproximando os futuros profissionais e fomentando uma cultura de cooperação desde cedo.
A verdadeira evolução da saúde reside na capacidade de trabalharmos juntos, desde a formação até à prática profissional. Assim como numa orquestra, onde cada nota é indispensável, o sucesso do nosso SNS depende da harmonia entre os diversos profissionais. Na união das vozes e na integração dos saberes, encontraremos o caminho para uma saúde mais humana, eficiente e adaptada às necessidades de todos.
Afonso Garcia
Presidente da Associação Portuguesa de Estudantes de Farmácia (APEF)