Adesão à terapêutica: um verdadeiro desafio! 1251

Todos concordamos que os medicamentos, nas últimas décadas, têm desempenhado um papel essencial na diminuição da mortalidade em todo o mundo e na melhoria da qualidade de vida de cada pessoa. Embora os utentes se queixem por terem que tomar medicação, a verdade é que, se não tivessem esta possibilidade, provavelmente teriam a sua qualidade de vida reduzida, temporária ou permanentemente, assim como a sua longevidade.

Em 2014, a Ordem dos Farmacêuticos lançou uma campanha sobre o “Uso Responsável do Medicamento” na qual refere a estimativa de que 50% dos cidadãos não tomam corretamente os medicamentos. De entre as várias oportunidades de melhoria, a adesão à terapêutica surge destacada como a mais significativa e nós, enquanto farmacêuticos comunitários, temos uma enorme responsabilidade nesse aspeto.

Explicar oralmente a posologia adequada, imprimi-la numa etiqueta autocolante, escrevê-la na caixa, desenhar o sol, a lua, a chávena e o prato, fazer um esquema numa folha à parte, tudo serve para ajudar o utente a saber como deve tomar “o medicamento certo, na dose certa, no momento certo”. Ainda assim, quantas vezes não ficamos com a sensação de que a correta adesão não está garantida, especialmente em utentes mais idosos e doentes polimedicados?

Neste contexto, existem já disponíveis no mercado várias formas de Preparação Individualizada da Medicação (PIM), um serviço pós-venda em que distribuímos a medicação semanal numa embalagem descartável e selada de acordo com os horários das tomas em cada dia. A fácil abertura e as ilustrações e indicações legíveis garantem a sua utilização de forma prática, simples e segura.

Apesar da sua evidente mais-valia, temos noção da resistência manifestada pela generalidade dos utentes em aderir a este serviço. O custo associado e o estigma sentido pelos mais idosos (como se a medicação fosse a última coisa que conseguissem gerir) são fatores que devem ser desmistificados através de um aconselhamento claro e assertivo.

Cada cidadão é “um todo em si mesmo e, simultaneamente, uma parte de um sistema maior”. Somos todos responsáveis e é através deste tipo de atendimento diferenciador que o farmacêutico comunitário deve cumprir a sua parte.

João Patrício,
Farmacêutico na Farmácia Holon Campo Grande