Administrador do IPO Lisboa rejeita ensaios como alternativa de acesso a novos fármacos 554

Administrador do IPO Lisboa rejeita ensaios como alternativa de acesso a novos fármacos
12-Maio-2014

O administrador do Instituto Português de Oncologia (IPO) de Lisboa, Francisco Ramos, defende a realização de ensaios clínicos no âmbito da investigação, mas não como uma forma alternativa de acesso a novos medicamentos.

«Deve ser nesse âmbito [da investigação clínica] que deve ser encarada a realização de um ensaio clínico, e não como uma forma alternativa e barata de um medicamento ser disponibilizado aos doentes», disse Francisco Ramos, em entrevista à agência “Lusa”.

O presidente do conselho de administração deste IPO recusa – e disse esperar que a generalidade dos hospitais públicos o continuem a fazer – a ideia de introduzir novos medicamentos através dos ensaios clínicos.

«Os ensaios clínicos não servem para introduzir novos medicamentos nos hospitais, servem para fazer investigação clínica, validar as premissas que esses novos produtos precisam de provar antes de serem utilizados na prática clínica», adiantou.

«Se estamos perante uma situação de ensaio clínico, estamos numa situação em que um determinado medicamento está em fase de provar o que se propõe fazer. Deve ser nesse âmbito que deve ser encarada a realização de um ensaio clínico, e não como uma forma alternativa e barata de um medicamento ser disponibilizado aos doentes», acrescentou.

Para Francisco Ramos, trata-se de «uma perspetiva errada e que cria uma falsa expetativa, porque ninguém pode afirmar que durante um ensaio clínico pode esperar um determinado resultado do uso desse medicamento».

Para o administrador, «é muito importante separar essas duas coisas e não aceitar o argumento de que os hospitais públicos devem aderir aos ensaios clínicos como uma forma de poupar dinheiro. Essa é uma visão errada, distorcida e perigosa».

«Ao pôr esse argumento em cima da mesa estamos a admitir que se deve proporcionar o acesso a determinados medicamentos a determinados doentes, antes desses medicamentos terem demonstrado essa eficácia», concluiu.

Segundo Francisco Ramos, o IPO de Lisboa tem atualmente vários ensaios clínicos em curso.

IPO de Lisboa reclama há mais de um ano 10 ME do Fundo de Pagamento de dívidas

O Instituto Português de Oncologia (IPO) de Lisboa reclama, há mais de um ano, a utilização dos 10 milhões de euros que tem aplicados no Fundo de Apoio ao Sistema de Pagamento (FASP) da saúde para investimentos na instituição.

De acordo com o presidente do conselho de administração do IPO de Lisboa, neste Fundo – criado quando o administrador estava no governo, na equipa do socialista António Correia de Campos – está aplicada «parte do capital» da instituição.

Logo após assumir funções neste IPO, em março de 2012, Francisco Ramos solicitou autorização ao Ministério das Finanças para utilizar os 10 milhões de euros, um uso que está definido na lei para aplicação em investimentos na unidade de saúde.

«Já solicitei o dinheiro de volta há muito tempo. Mas ainda não foi autorizado», disse.

Entre os investimentos que o IPO necessita está a área de radioterapia, «fundamental para reduzir a despesa que hoje é feita com a aquisição de serviços a entidades privadas nesta área».

O IPO de Lisboa ainda tem por realizar obras nas instalações, estando em curso melhoramentos na área do internamento.

«Estamos muito longe» dos objetivos desta administração, disse, esperando obter financiamento para dar ao IPO de Lisboa «condições para os próximos dez anos, dando tempo para o país recuperar condições para voltar a pôr na agenda um novo IPO de Lisboa».

Decisões centralizadas nas Finanças dificultam gestão do IPO Lisboa

O administrador do IPO de Lisboa considera que a centralização das decisões no Ministério das Finanças dificulta a gestão porque atrasa procedimentos simples como a substituição de funcionários em licença de maternidade.

Em entrevista à agência “Lusa”, Francisco Ramos afirmou que «tudo o que é relevante – recursos humanos e dinheiro – carece de uma decisão casuística por parte do Ministério das Finanças».

«É uma situação que não se poderá arrastar muito mais. É preciso mudar ou o modelo de controlo de ajustamento orçamental ou, pelo menos, geri-lo de uma forma diferente», defendeu.

Francisco Ramos, recentemente nomeado administrador do Grupo Hospitalar Instituto Português de Oncologia Francisco Gentil – que reúne os IPO de Lisboa, Porto e Coimbra –, critica a lentidão das decisões das Finanças, com algumas delas, sobre recursos humanos, a demorarem mais de um ano.

Esta centralização de decisões no ministério de Maria Luís Albuquerque traduz-se numa «quase completa ausência de autonomia» das instituições, que não conseguem resolver «em tempo útil» uma coisa «tão simples como a substituição de um profissional em licença de maternidade».

Para Francisco Ramos, este estado das coisas «ameaça a empresarialização dos hospitais», medida tomada quando se encontrava no governo de António Correia de Campos.

«O que se pretendeu com o processo de transformar estes hospitais em empresas públicas, independentemente das questões de afetar o défice público, ou não, era, no fundo, reconhecer o carácter complexo e de multisserviço que um hospital tem, que exige responsabilidade, flexibilidade, métodos de gestão típicos de empresas», adiantou.

Francisco Ramos considera que «a grande vantagem da empresarialização foi ter sido possível os últimos anos, com meios de gestão mais adequados, dar responsabilidade aos gestores e estabelecer objetivos. Os resultados foram bons e os níveis de eficiência melhoraram».

«O principal risco que temos hoje em termos de gestão hospitalar é o regressar a um tempo em que os objetivos não são credíveis, que é o que acontece quando se pede a hospitais que já têm grande trabalho feito de diminuição de custos, reduções de cinco por cento, de um ano para o outro, na despesa em pessoal», adiantou.

Hoje, prosseguiu, regista-se «uma quase completa ausência de autonomia para tomar decisões», o que «causa problemas de gestão».

«Não é possível prolongar por muito mais tempo este modelo, sem que seja exigido aos gestores hospitalares que decidam quais os serviços a reduzir ou a sua manutenção com problemas de qualidade e aumentando riscos de qualidade técnicas», alertou.

A esta dificuldade somam-se as restrições orçamentais, que Francisco Ramos considera não ser possível prolongar mais.

«Os processos de esticar os recursos internos que estão disponíveis, de forma a colmatar todas as brechas, sem de facto prejudicar a assistência aos doentes, estão esgotados», disse.

As dificuldades orçamentais do IPO de Lisboa tiveram reflexos nas contas de 2013, que fecharam com «um resultado negativo acima do esperado» e perspetivas para 2014 que também não são animadoras.

«É sempre possível melhorar os níveis de eficiência, fazer um pouco melhor com um pouco menos de recursos. Mas não é possível esperar no IPO de lisboa, e também nos outros dois, mudanças significativas em termos de eficiência, de um ano para o outro, por uma medida espetacular de redução de custos».