Alzheimer: Investigadores do Porto registam avanços para novas terapias
18 de junho de 2018 Um grupo de investigação do Porto está a criar novas terapias para o tratamento da doença de Alzheimer, através do estudo de uma proteína envolvida no desenvolvimento desta patologia, que afeta aproximadamente 47 milhões de pessoas a nível mundial. «A doença de Alzheimer resulta da degradação progressiva de um fragmento proteico – peptídeo abeta -, presente no organismo dos indivíduos, que os doentes com Alzheimer têm em concentrações demasiado elevadas, acumulando-se no cérebro», disse à “Lusa” Isabel Cardoso, do Instituto de Investigação e Inovação em Saúde da Universidade do Porto (i3S), entidade responsável pelo estudo. Neste projeto, a equipa do i3S está a estudar a proteína Transtirretina (TTR), presente no sangue, no cérebro e na medula espinal, que tem uma ação protetora na doença de Alzheimer. Segundo a investigadora, esta proteína consegue capturar os fragmentos proteicos típicos na doença de Alzheimer e transportá-los até ao fígado, onde estes são degradados e eliminados, evitando assim que se acumulem no cérebro. No entanto, o que se verifica é que, «em determinadas situações, a estabilidade da TTR está diminuída, ficando a função de limpeza dos fragmentos proteicos comprometida». De acordo com Isabel Cardoso, os investigadores perceberam que existem formas de recuperar a estabilidade da proteína, com recurso a «pequenos compostos químicos que a ela se ligam» – anti-inflamatórios não esteroides -, recuperando, assim, a sua ‘performance’. Para a obtenção destes resultados, a equipa analisou a capacidade de memória e de aprendizagem de ratos transgénicos, através da criação de dois grupos: um com animais com características típicas do Alzheimer, não tratados, e outro com portadores da doença, aos quais foi administrado um composto químico. Os animais foram colocados numa piscina, onde, durante alguns dias, a água era transparente e conseguia-se ver uma plataforma que fora aí instalada, de forma a memorizarem onde a mesma se encontrava. «Numa fase seguinte a água foi tornada turva», impedindo os animais de verem a plataforma, de forma a verificar o tempo que estes demoravam a encontrar a plataforma. Os animais não tratados «nadavam na piscina e tinham dificuldade em lembrar-se onde estava a plataforma, andando às voltas imenso tempo, sem a conseguirem encontra» referiu. Já no caso dos animais tratados com o composto químico, colocados na mesma situação, conseguiram encontrar a plataforma. De acordo com a investigadora, testes bioquímicos ao cérebro mostraram que, no caso dos ratos tratados, o peptídeo abeta estava diminuído comparativamente ao grupo não tratado, comprovando assim o efeito do composto químico. Apesar destes avanços, Isabel Cardoso considera que é preciso ainda muita investigação para identificar quais dos compostos químicos estudados conseguem estabilizar a TTR e, em simultâneo, aumentar a sua interação com o péptido abeta. A doença de Alzheimer é uma patologia progressiva e irreversível, que atinge o cérebro e caracteriza-se pela perda de memória e das capacidades de pensamento, afetando, atualmente, cerca de 47 milhões de pessoas. Isabel Cardoso salientou que o maior fator de risco para o desenvolvimento da doença é a idade e, dado o aumento da esperança média de vida, o número de casos tem vindo a aumentar, constituindo um problema grave, que afeta os pacientes e as suas famílias. A equipa recebeu recentemente um apoio de 37,5 mil euros, da Fundação Millennium BCP, que lhe permitirá, nos próximos 24 meses, aprofundar o seu trabalho. |