Alzheimer: Português participa em investigação que poderá ajudar a criar novos medicamentos
24 de outubro de 2017 Uma equipa internacional de investigadores, incluindo o português Sandro Alves, desenvolveu um modelo animal capaz de reproduzir a doença de Alzheimer na “fase silenciosa”, abrindo a possibilidade de testar novos medicamentos quando a patologia ainda é reversível. A chamada “fase silenciosa” começa cerca de 20 anos antes do diagnóstico atual e o objetivo do modelo é replicar essa fase mais precoce da doença para desenvolver novos fármacos, explicou à “Lusa” Sandro Alves. «A grande vantagem é que o modelo vai permitir ser utilizado para testar e desenvolver medicamentos específicos na fase silenciosa da doença, fase na qual a patologia ainda é reversível porque se agirmos tarde demais já vai ser impossível tratar», explicou o investigador. Sandro Alves, que participou no projeto liderado pelo francês Jérôme Braudeau, sublinhou que o novo modelo, batizado “AgenT”, vai também possibilitar o desenvolvimento de “um diagnóstico sanguíneo que vai tentar permitir fazer o diagnóstico 10 a 15 anos antes do diagnóstico atual”. «A vantagem é que este modelo animal vai permitir desenvolver medicamentos, estratégias terapêuticas e um teste sanguíneo naquela fase da doença que ainda não se vê, mas já sabemos que os sintomas estão lá. A vantagem de detetar a doença mais cedo é como quando há um fogo pequeno inicial e antes que o fogo se propague, nós, os bombeiros tentamos agir de forma mais precoce para tentar combater o incêndio», afirmou. O investigador destacou que, «atualmente, não há tratamento eficaz para a doença de Alzheimer» devido à impossibilidade de detetar a doença numa fase precoce, sabendo-se que as características biológicas de Alzheimer aparecem, pelo menos, 20 anos antes da manifestação de sintomas, como a perda de memória, por exemplo. Por outro lado, é a primeira vez que um modelo animal consegue reunir «de forma natural» as duas características patológicas comparáveis à degenerescência do cérebro humano: a agregação de proteínas Tau nos neurónios e a aparição de placas de peptídeos A’42. «Este modelo animal reúne as características mais importantes da doença de Alzheimer, a patologia amilóide e a patologia Tau. Nós induzimos a doença no rato adulto de forma a reproduzir a progressão da patologia humana. Aquilo que nós fizemos foi tentar dar tempo ao tempo para que a patologia fosse lentamente instalada de forma similar àquilo que é observado nos doentes», acrescentou. O modelo animal foi patenteado, os resultados foram publicados no jornal “Cerebral Cortex” a 18 de outubro e Jérôme Braudeau criou a start-up AgenT para «facilitar o acesso à utilização deste modelo animal na área da investigação biomédica e para desenvolver um teste de diagnóstico sanguíneo». Sandro Alves é atualmente diretor do departamento de investigação pré-clínica de uma empresa na área da biotecnologia, em Paris, tendo participado no estudo na qualidade de pós-doutoramento do instituto francês de Saúde e investigação médica. |