António Arnaut apela a Cavaco para travar «colapso no SNS» 08 de Abril de 2015 O ex-ministro António Arnaut apelou ao Presidente da República, Cavaco Silva, para intervir de modo a preservar o Serviço Nacional de Saúde (SNS), alertando que se vive uma «situação trágica», muito perto «do colapso». «A situação em que vivemos é trágica, estamos a aproximar-nos do colapso do Serviço Nacional de Saúde», disse à agência “Lusa” o ex-governante socialista, que assumiu a pasta dos Assuntos Sociais no II Governo Constitucional, liderado por Mário Soares. Para António Arnaut, as reformas da saúde em Portugal resultaram na expansão do setor privado, à custa da destruição do serviço público. «Isto é uma questão política de primeira linha, porque tem a ver com a democracia portuguesa», defendeu aquele que é classificado como o “pai” do SNS. O Comité de Politica Social da União Europeia elogiou, numa análise divulgada na terça-feira, as mudanças feitas em Portugal na saúde e nas pensões de reforma, mas contrapôs a necessidade de garantir uma adequada cobertura da assistência social. «Deixemos os estudos. Sou utente do SNS e conheço o que se passa aqui e noutros sítios. O grande problema é que há uma política premeditada, a nível europeu e também em Portugal, de destruir o Estado social e aquilo que pode ser objeto de negócio, de mercantilização, a saúde e a escola pública», acusou. O grande problema, prosseguiu, não será tanto o ministro da Saúde, Paulo Macedo, mas «o primeiro-ministro», Pedro Passos Coelho, que classificou como «um neoliberal assanhado». António Arnaut recorreu a estudos já publicados para recordar que o setor público perdeu 3.000 camas nos últimos quatro anos, enquanto o privado ganhou 2.000, com novas unidades a abrir todos os dias. «Isto é uma situação muito preocupante, porque sendo Portugal um país com dois milhões de pobres e outros dois milhões em risco de pobreza, com o desemprego que temos, se lhes falta o SNS que lhes presta assistência médica numa situação de aflição, então receio que haja realmente uma convulsão social», declarou. António Arnaut voltou a apelar ao Presidente da República para intervir: «Isto é uma questão de dignidade nacional, de respeito pelo Constituição da República». «Se o Presidente interveio quando era ministro da Saúde Correia de Campos e provocou a queda do ministro, estranho muito o seu silêncio, que é um silêncio cúmplice do atual governo», sublinhou. «Tem de chamar a atenção para a situação que se verifica na saúde, porque o colapso que se verificou nas urgências mostra como o SNS está completamente debilitado em recursos humanos e técnicos», exemplificou. Portugal, afirmou, é dos países que «menos gasta em saúde» (cerca de 800 euros per capita). «Os médicos e enfermeiros trabalham até à exaustão e, dentro dessa falta de recursos humanos, verificou-se a destruição de equipas médicas, sobretudo de urgência, que funcionavam exemplarmente», apontou António Arnaut, para quem o Chefe de Estado não pode furtar-se a uma intervenção. «A realidade é esta: muitas pessoas não vão às consultas ou às urgências porque não têm dinheiro para pagar as taxas moderadoras», lamentou. Para o ex-político, trata-se de «uma situação calamitosa» que põe em causa «a saúde dos portugueses, os princípios da igualdade, a coesão social e a paz social», um bem público. |