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APCC: Excesso de suplementos de vitamina D tem explicação económica

 


03 de maio de 2017

O presidente da Associação Portuguesa do Cancro Cutâneo (APCC) alertou hoje que o excesso de prescrição de suplementos de vitamina D na população portuguesa tem uma explicação económica e lembrou que nas consultas não vê doentes raquíticos.

«A suplementação de vitamina D tem uma explicação económica. Num país como o nosso, com sol, não faz sentido. Basta uma exposição de 15 minutos, fora do horário vermelho, para a pele produzir a vitamina D necessária. E no consultório não vejo ninguém raquítico», afirmou António Picoto.

O especialista em dermatologia falava na conferência de imprensa de apresentação dos últimos dados sobre cancro de pele e da campanha deste ano para o Dia dos Cancros da Pele (Dia do Euromelanoma), em resposta à agência “Lusa” a propósito da investigação que está a ser feita pelas autoridades sobre o aumento do consumo e das despesas com este suplemento vitamínico.

Por causa dos gastos com os suplementos de vitamina D, que dispararam nos últimos anos, o INFARMED, a Direção-Geral da Saúde (DGS) e o Instituto Ricardo Jorge (INSA) já anunciaram uma avaliação “firme e rigorosa” do diagnóstico e tratamento deste défice vitamínico.

O especialista da Associação Portuguesa do Cancro Cutâneo lembrou ainda que é um engano pensar-se que os solários fornecem vitamina D, uma vez que as lâmpadas usadas são de raios ultravioleta A (UVA) e para a produção de vitamina D são necessários os UVB.

O especialista considera importante perceber-se qual a origem dos défices que têm sido detetados nos portugueses, lembrando que foram identificados inclusive valores diferentes consoante os laboratórios.

Dados recolhidos pelo INFARMED mostram uma duplicação dos encargos entre 2015 e 2016, valor que quintuplicou em dois anos, passando de 1,1 milhões de euros para 5,7 milhões, incluindo medicamentos com e sem comparticipação.

O financiamento no Serviço Nacional de Saúde (SNS) aumentou num ano de 779 mil euros para 2,1 milhões.

Para o INFARMED, «estes valores, só por si, não permitem concluir que há um sobretratamento do défice de Vitamina D», mas «a discrepância de valores nos resultados publicados em dois estudos diferentes justifica uma avaliação profunda e esclarecedora nesta área».

Segundo a autoridade do medicamento, esta investigação está a ser efetuada em diversas vertentes, desde logo relativamente às metodologias utilizadas na determinação dos níveis sanguíneos de vitamina D, à racionalidade clínica na prescrição de medicamentos com vitamina D e às práticas promocionais daqueles medicamentos por parte das empresas farmacêuticas.