O presidente da Associação Portuguesa da Indústria Farmacêutica (Apifarma) defendeu esta quarta-feira que o recente aumento de preços dos medicamentos é positivo, mas é insuficiente para resolver a falta de medicamentos nas farmácias.
“Não é o suficiente, mas é [uma decisão] no sentido certo e pode ajudar a equilibrar alguma coisa”, afirmou João Almeida Lopes durante uma audição na comissão parlamentar de Saúde sobre rutura de medicamentos, a pedido da Iniciativa liberal.
O responsável sublinhou também a necessidade de olhar não só para o preço dos medicamentos, mas para o benefício que os fármacos trazem no que se refere à redução de custos na assistência aos doentes.
“Há medicamentos caros e patologias muito complexas e necessidades médicas ainda não satisfeitas, mas as patologias com maior prevalência estão resolvidas e as pessoas vivem muito mais”, afirmou o presidente da Apifarma, sublinhando que ”quando era novo as pessoas iam parar ao hospital com úlceras abertas. Hoje em dia raramente vão”, cita a Lusa.
João Almeida Lopes disse ainda que, nos últimos 20 anos, as autoridades estiveram sempre a olhar para os preços dos medicamentos, pensando apenas em baixá-los, considerando que essa abordagem “tem os seus reflexos e eles estão aí”.
A este respeito, deu igualmente o exemplo que concursos hospitalares: ”Nunca eram adjudicados a um fornecedor apenas, por uma questão de segurança. Agora é apenas um fornecedor, o do preço mais barato. Se algo acontece, depois não há”.
Defendeu que o sistema de compras montado “não faz sentido” e apontou igualmente o desinvestimento nos últimos 20 anos na produção de medicamentos na Europa, incluindo em Portugal.
“Antigamente tínhamos a Cipan, que era a companhia portuguesa de antibióticos. Hoje já não fazemos o que fazíamos”, afirmou, para exemplificar a falta de capacidade produtiva nacional, assim como a europeia, e destacar a crescente dependência sobretudo do mercado asiático (China e Índia).
Das substâncias ativas para medicamentos, disse, “calcula-se que apenas um terço pode ser produzida na Europa ou é detida a autorização de produção por entidades europeias. Os outros dois terços passaram para a Ásia”.
O responsável disse igualmente que o atual aumento de preços dos medicamentos decidido pelo Governo, assim como a definição de uma lista de medicamentos críticos (que podem vir a sofrer revisão de preços) são medidas positivas, mas não resolvem por completo o problema da falta de fármacos.
“Há produtos cujos princípios ativos foram descontinuados por terem muito pouco valor para quem fabrica. Em última análise, está sempre a economia”, insistiu.
“É como se estivéssemos numa sala em que o soalho não mexe e o teto vai baixando”, disse João Almeida Lopes, para destacar a constante redução de preços dos medicamentos nos últimos anos, lembrando que Portugal é dos países europeus com os preços mais baixos.
“A maior parte das decisões, sobretudo das empresas multinacionais, não são tomadas em Portugal. Se a nível global tenho dificuldade em ter um produto para abastecer um mercado que tem vindo a ter consumos maiores (…) não me surpreenderia que quem faz a gestão global privilegie mercados em que os preços não estejam tão esmagados e tenham maior dimensão”, considerou.