Aplicativo para telemóveis ajuda a salvar vidas em Moçambique
04 de agosto de 2014
Com o apoio de um aplicativo para telemóveis, Fernando Monguambe presta consultas à isolada e populosa localidade de Chirewé, da província de Inhambane, onde o agente de saúde comunitária representa o único elemento formal dos serviços sanitários moçambicanos.
Logo que chega de uma visita ao Centro de Saúde de Chacane, a unidade de referência da localidade de Chirewé, do distrito de Inharrime, depois de uma viagem de bicicleta de duas horas para levantar o seu kit mensal de medicamentos, Fernando Monguambe é esperado por um homem com duas crianças ao colo, ambas doentes.
Após verificar os seus respetivos boletins de saúde, Monguambe, que recebeu formação de alguns meses para se tornar Agente Polivalente Elementar (APE), dá início à consulta, apoiado por um aplicativo para telemóveis de nova geração.
O Commcare está a ser testado em seis distritos da província de Inhambane, no âmbito do programa inScale, da organização não-governamental (ONG) Malaria Consortium, com sede no Reino Unido.
Com uma rede de unidades sanitárias considerada precária face à enorme dispersão populacional do país, os APE são, para milhões de famílias moçambicanas, o meio mais próximo dos serviços de saúde formais, podendo a sua ação reduzir até 60% a mortalidade infantil associada a doenças como a malária, pneumonia e diarreia, responsáveis por cerca de 44% das mortes de crianças com idade inferior a cinco anos.
Lançado na década de 1978, o programa dos APE foi revitalizado, há quatro anos, pelo Ministério da Saúde de Moçambique (MISAU), em parceria com diversas ONG que atuam no país.
A motivação dos agentes é um dos principais obstáculos ao seu desempenho, que, de resto, pode levar ao abandono das suas funções.
«O inScale foi criado para avaliar a motivação dos APE, uma vez que os projetos de saúde comunitária, a nível mundial, revelam que a motivação os agentes é condicionada por fatores, como, por exemplo, o uso de dados ou a supervisão», explicou à “Lusa” Ana Castel-Branco, coordenadora do programa.
Baseado num manual de saúde do MISAU, o aplicativo guia o operador através de perguntas-chave, cujas respostas levam à deteção de sintomas de doenças padronizadas no Commcare, como a malária, assim como à indicação do tratamento adequado, aconselhando ainda o encaminhamento do doente para uma unidade de saúde, nos casos em que o agente não possui capacidade de resposta.
«É fácil de utilizar. A nossa prioridade são consultas às crianças e o telemóvel indica-nos a medicação que é necessária. Está tudo indicado», disse descontraído Fernando Monguambe, um dos 126 APE que utilizam o aplicativo, e que afirma detetar pelo menos 120 casos de malária mensalmente, nas quatro áreas comunitárias onde atua, com cerca de 2.000 habitantes.
Além de incluir mensagens áudio de sensibilização sobre cuidados preventivos, o aplicativo está ligado a um servidor, que gera relatórios sobre a atividade dos APE e que permite, por exemplo, apurar roturas de medicamentos, um constrangimento sobretudo frequente com antimaláricos.
«Conseguimos que os dados dos APE passem diretamente para o coordenador provincial de Saúde, garantindo a sua fiabilidade e qualidade. Só por isto, o programa já vale a pena», sublinhou Stélio Tembe, médico-chefe da Direção Provincial de Saúde de Inhambane.
A análise preliminar ao desenvolvimento da iniciativa, que arrancou em junho de 2013 e que se estende até ao final deste ano, indica «que o número de APE que desistiram é menor do que nos outros anos», o que, segundo Ana Castel Branco, «é um bom sinal».
Só no final do programa será possível medir a sua eficácia, quando for feita uma análise comparativa com dados de outros seis distritos da província, no qual os APE atuam sem o Commcare».