Assembleia Municipal do Porto rejeita criação de sala de consumo assistido de drogas 684

Assembleia Municipal do Porto rejeita criação de sala de consumo assistido de drogas

08 de Julho de 2016

A Assembleia Municipal do Porto rejeitou na segunda-feira à noite a proposta do Bloco de Esquerda (BE), que foi apoiada pelo PSD, para a criação de «uma sala de consumo assistido» de drogas na cidade.

A proposta bloquista recebeu dez votos favoráveis, 28 contra e oito abstenções.

«Em diversos espaços da cidade, este consumo tem vindo a acontecer em espaços e edifícios abandonados, em locais onde se acumulam seringas e lixo», argumentaram os bloquistas, através da deputada Susana Constante, citada pela “Lusa”.

Trata-se de «uma questão de saúde e direitos humanos», afirmou.

O BE recordou haver já um decreto-lei com 15 anos (183/2001) que prevê salas de consumo assistido «como uma porta de entrada potenciadora da aproximação dos toxicodependentes à rede de cuidados de saúde, encaminhando-os para o tratamento», com vista a «reverter» a sua «degradação».

Tanto o PS como o grupo afeto ao presidente da Câmara, Rui Moreira, opuseram-se à iniciativa bloquista e avançaram com uma proposta conjunta, que foi aprovada, recomendando ao executivo municipal a realização, no prazo de seis meses, de «um relatório» sobre a toxicodependência no Porto.

O vereador socialista Manuel Pizarro defendeu a posição do seu partido e do movimento de Rui Moreira, Porto O Nosso Partido (PONP), tendo começado por realçar que «o debate sobre esta questão tem de ser feito com a profundidade e a serenidade que merece».

Pizarro referiu que «este assunto não foi sempre consensual», concordou que «o problema precisa de uma resposta», vincando que a discussão é saber «qual é a resposta mais adequada», e concluiu que «é por isso que um estudo técnico é tão necessário», para se tomar uma «decisão fundamentada».

«Seria muito pouco avisado decidir sem sustentação técnica», completou.

A proposta do PS e do PONP recomenda que o estudo seja feito pela recém-criada Divisão Municipal de Promoção da Saúde, para desse modo poder «fundamentar de um modo adequado o estabelecimento de novas medidas políticas». Foi-lhe depois acrescentada uma adenda prevendo a constituição de uma Comissão de Acompanhamento do estudo composta por um elemento de cada força política representada na Assembleia Municipal.

Esta proposta teve 28 votos favoráveis, nove contra e nove abstenções.

A CDU também acolheu com ceticismo a tese bloquista e apresentou uma proposta, que foi chumbada, recomendando que seja revertida a extinção do Instituto da Droga e da Toxicodependência, levada a cabo pelo Governo anterior.

A CDU propunha também a «constituição de um grupo de trabalho» chefiado pelo presidente da Câmara ou por um seu representante, pelas forças políticas da Assembleia Municipal e por técnicos, com a missão de elaborar em seis meses «um diagnóstico da situação» propor «medidas a considerar».

A deputada Natacha Teixeira, do PSD, disse que este «é um problema de consciência», razão que o partido alegou para dar liberdade de voto aos seus deputados, e sustentou que a sala de consumo assistido «é um instrumento» da estratégia de redução de riscos associados ao consumo de drogas em condições degradantes.

No final da sessão, no período destinado ao público, o munícipe Rui Coimbra Morais disse que «o modelo proibicionista e repressivo não é o mais útil» para resolver estes problemas, ao passo que Duarte Nuno Correia, outro munícipe, deu «os parabéns» à Assembleia Municipal por querer um estudo técnico antes de decidir sobre o assunto.