Associação de Unidades de Saúde Familiar critica a centralização das vacinas sazonais nas farmácias 428

A Associação Portuguesa das Unidades de Saúde Familiar (USF-AN) criticou hoje a centralização das vacinas sazonais nas farmácias no outono/inverno 2023/24, lembrando que houve mais internamentos por gripe nos cuidados intensivos e as metas foram atingidas mais tarde.

Num comunicado, citado pela agência Lusa, a USF-AN pergunta às autoridades de saúde como vai ser a estratégia na próxima campanha de vacinação sazonal e recorda que, quando a centralização do processo estava nos centros de saúde, Portugal “era dos poucos países que conseguia cumprir as metas da Organização Mundial da Saúde em tempo útil”, ou seja, “antes do início das fases mais críticas”.

“Isto revela que a acessibilidade nunca foi um problema”, afirma a USF-AN, acrescentando que “este ano, os números de anos anteriores foram atingidos tardiamente e só depois de ter sido pedido aos centros de saúde para fazerem o que sempre fizeram bem”.

Até essa altura – sublinha – “as vacinas foram desviadas para as farmácias e os centros de saúde, mesmo querendo vacinar, não tinham vacinas”.

Sobre os internamentos por gripe em cuidados intensivos, diz que houve “mais do dobro” e compara o período entre a semana 40 (02 a 08 de outubro) de 2023 e a semana 23 (03 a 09 de junho) de 2024 e o mesmo período de 2022 e 2023, para concluir que os casos subiram de 76 para 156.

A USF-AN questiona qual a fundamentação técnica para se ter feito esta “alteração de paradigma na estratégia vacinal” e se foi feito “algum estudo de impacto económico prévio desta mudança de estratégia”.

Um estudo da Associação Nacional das Farmácias (ANF), divulgado hoje, concluiu que o alargamento da vacinação contra a covid-19 e a gripe às farmácias gerou um potencial de poupança de 2,4 milhões de euros para os utentes e de 310.000 horas de trabalho de profissionais no Serviço Nacional de Saúde. Porém, a USF-AN considera que “a sequência lógica” deveria ter sido a ANF ter feito o estudo económico prévio desta mudança, o que posteriormente teria de ser avaliado pelo INFARMED e que teria de ter a avaliação da DGS para “medir o impacto para a saúde”.

Apontando dados retirados dos Boletins de Vigilância Epidemiológica da Gripe e outros Vírus Respiratórios do Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge, com a evolução semanal da proporção de doentes com gripe em Unidades de Cuidados Intensivos (UCI) desde 2012 até 2024, afirma: “Nunca houve um pico de casos de gripe nas UCI tão acentuado como na época gripal de 2023/2024”.

“Nunca a comparação com a época imediatamente anterior foi tão abissal”, refere a associação, avisando igualmente que um pico de casos “pode levar à rutura da capacidade de resposta, num dado momento, de recursos, como as UCI”.

A USF-AN lembra igualmente o custo económico desta mudança, estimando que os 2,5 euros pagos por cada vacina covid-19 administrada nas farmácias – à semelhança do que é pago pelas da gripe – tenha resultados num total de 11.500.000 euros, valor que a associação diz que daria para investir nos cuidados de saúde primários, por exemplo, contratando 639 enfermeiros que faltam no SNS.

“Esta opção, além de garantir a vacinação sazonal, garantia também cuidados de enfermagem qualificados a cerca de um milhão de utentes sem enfermeiro de família”, considera a USF-AN, lembrando que o ato de vacinação no centro de saúde pode ser usado para estratégias preventivas e de promoção da saúde, como os rastreios, ou os cuidados na doença crónica como a diabetes ou hipertensão arterial.