Associação Portuguesa de Fertilidade pede «mudança de mentalidade» 869

Associação Portuguesa de Fertilidade pede «mudança de mentalidade»

02 de Junho de 2016

A Associação Portuguesa de Fertilidade (APF), instituição sediada em Matosinhos que nasceu há dez anos e que conta quatro mil associados, considera que o maior problema que enfrenta é a dificuldade em encontrar quem fale abertamente do tema.

A associação «teve um papel fundamental» na criação da legislação na primeira década do século XXI, que »defendeu as mulheres com problemas de fertilidade», contou à agência “Lusa” a secretária da direção da APF, Marta Casal.

Detentora do estatuto de Instituição Pública de Segurança Social, a associação «ganhou muitos associados» desde que a lei foi instaurada, mas essa adesão não representou, ao mesmo tempo, «uma mudança de mentalidades», lamentou a responsável.

«Não sendo um tabu, a verdade é que quem nos procurou durante muito tempo, através a plataforma informática que criámos, fazia-o usando um nickname [alcunha]. Mas agora, com o novo modelo instaurado, a que só acede quem for associado, esse número de pessoas a pedir ajuda diminuiu», explicou Marta Casal.

Dispondo de uma página na Internet na qual presta informação, «mas sem dar indicações médicas ou recomendar médicos», a AFP possui uma «rede de psicólogos por todo o país – com quem celebrou protocolos – e a que os associados podem recorrer com vantagens», acrescentou.

Ao longo da última década foi percetível para a associação que nem mesmo os grupos de apoio funcionaram: «as pessoas preferem falar com alguém que tenha vivido ou esteja a passar pelo mesmo, num círculo o mais restrito possível», sendo também por isso, lamentou, «tão difícil encontrar pessoas que queiram dar a cara e os seus testemunhos».

Esta complexidade resultou em outros problemas para a APF que, por exemplo, desconhece a taxa de sucesso da ajuda que prestou, «porque há associados que não dão retorno dos tratamentos efetuados», argumentou aquela dirigente de uma associação cujos órgãos sociais estão, atualmente, preenchidos na íntegra por mulheres.

E num país onde a «taxa de infertilidade feminina é superior à masculina», alerta Marta Casal, «muito do declínio do matrimónio está associado à infertilidade, pois contém uma vertente psicológica muito difícil além de que os tratamentos são longos e muito caros e por vezes são precisos vinte».

«No público, por lei, os tratamentos de fertilidade não superam os três e quando não há sucesso resta o privado, onde os tratamentos são muito mais caros», explicou a responsável, frisando que uma fertilização in vitro «custa entre cinco e seis mil euros, sem garantia de nada».

Se no público, por lei, «uma mulher pode contar com ajuda até aos 39 anos e 364 dias», neste cenário, «para quanto mais tarde deixar a missão de engravidar em maiores problemas se pode ver envolvida», advertiu.

«É necessária uma mudança de mentalidade e um maior envolvimento dos homens, cujos problemas de fertilidade são de mais fácil resolução, sendo ultrapassados, por exemplo, através de uma biopsia testicular», reivindicou a secretária, lembrando «a burocracia na adoção de crianças». E acrescentou: «Em Portugal há mais crianças para adotar do que casais a procurar a adoção e há casos em que têm de esperar dez anos para o processo ficar concluído».