A presidente da Associação Portuguesa de Menopausa alertou, hoje, para práticas não reguladas exercidas por profissionais de saúde, no âmbito da medicina antienvelhecimento, que constituem uma “ameaça à saúde pública” com prejuízo para a saúde das mulheres.
O alerta foi feito por Cristina Mesquita de Oliveira na comissão parlamentar de Saúde, onde a associação foi ouvida a propósito do Dia Mundial da Menopausa, hoje assinalado.
Na sua intervenção, citada pela Lusa, a responsável destacou um alerta feito pela Sociedade Portuguesa de Endocrinologia Diabetes e Metabolismo, pelo Núcleo de Estudos de Geriatria da Sociedade Portuguesa de Medicina Interna e pelos colégios da especialidade de Endocrinologia e Nutrição e da Competência de Geriatria sobre o uso de terapêuticas hormonais no âmbito da Medicina Anti-Ageing.
“Emitiram um parecer e um alerta em relação a este tipo de desinformação que está a acontecer e em relação a termos usados como consultas anti-ageing ou medicina anti-ageing, medicina integrativa, e outras, que induzem as pessoas em erros, que são utilizados por profissionais de saúde não reconhecidos pelos pares em práticas não reguladas e também não reconhecidas nem pelas ordens científicas, nem pelos pares”, salientou.
Cristina Mesquita de Oliveira alertou que estas práticas “caras e perigosas para a saúde” estão a acontecer em Portugal, com “estratégias de marketing agressivas”.
“Aumentaram o número de cancro do endométrio e de espessamento do endométrio. Portanto, isto é realmente uma ameaça à saúde pública e é isto que chega às mulheres, que estão desprotegidas e sujeitas à manipulação da desinformação, muitas vezes propagadas por interesses comerciais”, lamentou.
A responsável salientou que o objetivo da associação é “dar voz” a estas mulheres e “pôr fim ao silêncio que as tem deixado desprotegidas”, mas sobretudo criar o apoio que necessitam.
“Elas enfrentam a pior das ameaças conhecidas, a indiferença, o desleixo e a negligência mantida e reiterada quanto à sua vida pós-reprodutiva numa sociedade impreparada para as acolher num sistema de saúde que até agora não conseguiu responder adequadamente às suas necessidades, estando expostas à manipulação da desinformação”, sublinhou.
A especialista observou que há 2,8 milhões de mulheres em menopausa em Portugal, sendo que oito em cada 10 vivem diretamente o seu impacto negativo, que as faz percorrer especialidades médicas, “muitas das quais apenas quando têm dinheiro para as pagar essas consultas e muitas delas sem que lhes seja apontado um caminho coincidente com a sua condição de saúde”.
Esta realidade faz com que o sentimento “mais comum que se instala” e que as mulheres manifestam diariamente à associação seja “o abandono”.
Dirigindo-se aos deputados, Cristina Oliveira afirmou que, “para cada desconforto relacionado com o processo de menopausa, há uma solução validada cientificamente, segura e eficaz e que evita doenças incapacitantes”, mas questionou porque é que esta informação não chega aos seus destinatários principais.
Para a associação, é urgente haver intervenções sociais e políticas de saúde pública que reconheçam e mitiguem os impactos da menopausa na vida das mulheres, especialmente das mais vulneráveis.
Defendeu a criação de um ambiente de trabalho que reconheça a menopausa como uma fase natural e inevitável da vida, fornecendo esclarecimento e apoio médico e ajustamentos laborais que permitam às mulheres continuar as suas carreiras sem comprometer a sua saúde.
A associação propôs também a criação de políticas públicas de saúde focadas na menopausa, aproveitando a capacidade instalada do Serviço Nacional de Saúde, nomeadamente o alargamento das consultas de planeamento familiar à menopausa, e a comparticipação de todos os medicamentos prescritos por médicos para gestão dos seus impactos.