Associações propõem salas de consumo para reduzir infeções em contexto de crise
31-Mar-2014
Associações ligadas à droga e à saúde vão propor a criação de espaços para consumo e o uso de medicamentos à base de morfina para tratar dependências, como forma de prevenir infeções, em contexto de crise económica e social.
No dia 1 de abril, a Assembleia da República acolhe a Conferência “Políticas de Droga e Saúde”, promovida pelo GAT (Grupo Português de Ativistas sobre Tratamentos de VIH/SIDA), APDES (Agência Piaget para o Desenvolvimento) e a associação CASO (Consumidores Associados Sobrevivem Organizados), para debater a política em matérias de drogas que envolve a sociedade civil, as instituições nacionais e internacionais, especialistas e os decisores políticos.
Segundo Luís Mendão, do GAT, a conferência surge num contexto de crise económica e social, que afeta sobretudo os setores da população mais vulneráveis, incluindo os utilizadores de drogas.
«Há registos consistentes de que pode aumentar o consumo de drogas, o consumo problemático de drogas e os riscos inerentes. Há muitos relatórios de surtos de doenças infecciosas entre utilizadores de drogas e seus parceiros», explicou, citado pela “Lusa”.
Em primeiro lugar, estas associações consideram fundamental conhecer a situação portuguesa, porque há «atrasos importantes nas notificações» o que pode conduzir a que se detete «um problema quando já e difícil compensar».
«Por isso decidimos trazer organizações internacionais responsáveis pelo aconselhamento dos Estados e Governos nacionais sobre o problema do consumo, para perceber qual o melhor conhecimento possível para tratar dependências e doenças associadas a pessoas com dependências», acrescentou.
Na conferência vão também ser apresentadas algumas propostas que as associações pensam ser necessárias para «prevenir custos insuportáveis no futuro».
Uma das propostas é no sentido de se fazer um «verdadeiro reconhecimento da situação: é preciso perceber se há tendências no aumento de uso de drogas injetáveis, ou recaídas».
«Mas precisamos de o saber mais rapidamente, através da monitorização epidemiológica rápida, para perceber os riscos que estão a acontecer», sublinhou, acrescentando que para isto é fundamental a coordenação entre o SICAD, as ARS e a DGS, com especialistas universitários.
Com base nestes resultados, deverão ser identificadas as necessidades e as respostas possíveis.
Outra proposta, que se prende com «falhas» detetadas pelas associações, é a da otimização do programa de troca de seringas, que «é preciso que funcione bem».
Luís Mendão considera também que, «neste momento de situação precária», faz sentido «criar respostas do tipo de centros de consumo seguro, com serviços de saúde mínimos que estão previstos na lei mas nunca implementados».
Estas salas seriam estruturas onde as pessoas teriam supervisão e condições de higiene, além de mais informação sobre o consumo e as doenças, à semelhança do que se passou na Grécia quando houve um surto de infeções.
«Ainda o uso de medicamentos adicionais, à base de morfina, para tratamento de dependência», uma sugestão que parte do facto de haver pessoas que não aderem aos outros tratamentos de substituição opiácea, explicou o responsável do GAT apontando a experiência na Suíça, na Bélgica ou na Holanda, como casos de sucesso.
O GAT considera ainda importante introduzir a discussão da descida do preço de alguns medicamentos muito caros, como os do VIH ou da hepatite C, porque «o número de pessoas com infeção o justifica».