AstraZeneca e Lilly firmam parceria para tratamento de Alzheimer 663

17 de setembro de 2014

A AstraZeneca assinou um acordo de parceria com a rival norte-americana, Eli Lilly, que, segundo a agência “Reuters”, poderá levar a farmacêutica britânica a ganhar 500 milhões de dólares se um promissor, mas arriscado, medicamento experimental para o Alzheimer for bem-sucedido.

A AstraZeneca disse, em maio, que estava à procura de um parceiro para o desenvolvimento do seu medicamento inibidor BACE, denominado AZD3293, que está preparado para entrar na última etapa dos testes clínicos de Fase III contra o Alzheimer.

A decisão da Lilly integrar o projeto é uma mais-valia para a investigação deste novo medicamento oral, visto que a farmacêutica norte-americana tem um longo historial de investigação de tratamentos contra o Alzheimer.

A farmacêutica Lilly vai pagar à AstraZeneca 500 milhões de dólares para partilharem os direitos do medicamento, com uma escala exata de pagamentos, dependendo do progresso dos ensaios clínicos do fármaco e do seu sucesso comercial.

Os medicamentos inibidores BACE bloqueiam uma enzima, chamada beta-secretase, que está envolvida na produção da beta-amilóide, uma proteína que cria placas no cérebro, consideradas a principal causa do Alzheimer.

Estes fármacos são encarados como uma nova abordagem promissora e passaram a ocupar um lugar de destaque depois de uma série de medicamentos injetáveis, que têm como alvo as placas beta-amilóides, terem falhado ou ficado aquém nos ensaios, realizados pelas farmacêuticas Pfizer e Lilly.

A Merck Sharp & Dohme (MSD) lidera, atualmente, o campo de pesquisa de inibidores BACE, com a previsão de iniciar o primeiro programa de ensaios clínicos de Fase III, em 2017.

A AstraZeneca revelou que, na primeira metade de 2015, espera receber o primeiro pagamento da Lilly, no valor de 50 milhões de dólares. A farmacêutica britânica acrescentou que o negócio não terá qualquer impacto nas suas receitas de 2014.

A maioria da investigação desenvolvida pela AstraZeneca está direcionada para medicamentos contra o cancro, diabetes e doenças cardiovasculares. Os projetos de neurociência, inclusivamente os que são vocacionados para o Alzheimer, não são centrais nesta farmacêutica.

A AstraZeneca tinha realçado o potencial do AZD3293 durante a sua luta bem-sucedida contra a OPA, de 118 mil milhões de euros, lançada pela Pfizer.

Na altura, um documento de defesa estratégico revelou que o inibidor BACE poderia, potencialmente, alcançar vendas no valor de 5 mil milhões de dólares por ano, embora a AstraZeneca lhe tenha apenas atribuído 9% de probabilidade de sucesso, uma previsão ajustada ao risco, já que a taxa de fracasso no campo de pesquisa do Alzheimer é elevada.

A AstraZeneca e a Lilly pretendem avançar rapidamente com ensaios clínicos de Fase II/III do AZD3293, em pacientes com Alzheimer numa fase precoce. Vários especialistas acreditam que administrar fármacos logo no início da doença poderá ser a chave para o sucesso do tratamento.

A Lilly será responsável pelo desenvolvimento clínico do medicamento, enquanto que a AstraZeneca terá a cargo a produção do fármaco. Ambas as farmacêuticas vão participar na comercialização do produto.

As empresas vão dividir igualmente todos os custos relativos ao desenvolvimento e comercialização do AZD3293, bem como as receitas globais líquidas, após o lançamento do fármaco.

A demência, que é a forma mais comum de Alzheimer, já afeta 44 milhões de pessoas em todo o mundo e deverá chegar aos 135 milhões em 2050, de acordo com o Alzheimer’s Disease International, um grupo sem fins lucrativos.

Ao contrário do que se verifica com o cancro e com os problemas de coração, as investigações de medicamentos para o Alzheimer não têm apresentado grandes avanços, desde que os reguladores norte-americanos aprovaram o primeiro tratamento, em 1993.

Os medicamentos para o Alzheimer, incluindo as versões genéricas do Aricept, da Pfizer, ou o donepezilo, podem ter um pequeno contributo na preservação da memória e da capacidade de realizar tarefas diárias, mas não retardam a doença.