17 de Abril de 2015 Um especialista em pneumologia afirmou hoje que o número de casos de cancro relacionado com exposição a amianto está a aumentar e defendeu a necessidade de quem esteve exposto realizar exames médicos para diagnosticar a doença em fases precoces. «É uma situação muito complicada, atualmente ainda é um tumor com uma incidência relativamente baixa, mas está aumentar, tem um período de crescimento entre os 20 e os 30 anos» e, se o auge da utilização de amianto na construção civil e naval foi nos anos 70 e 80, «é agora que está a aparecer massivamente e continuará a aumentar progressivamente», disse Jorge Cruz. O pneumologista da Fundação Champalimaud falava aos jornalistas à margem de uma ação de sensibilização organizada pela Quercus em Lisboa e que contemplou um seminário com especialistas de várias áreas e a apresentação de um “mini-estaleiro” com os equipamentos utilizados para retirar o amianto, substância utilizada na construção, há alguns anos, mas depois proibida por se ter comprovado que a sua inalação pode causar cancro do pulmão. Jorge Cruz explicou que «uma das coisas que [o amianto] provoca são tumores nas vias aéreas, nomeadamente o cancro do pulmão, mas principalmente o mesotelioma, um tumor maligno, altamente agressivo, em que está provado completamente a relação direta entre exposição ao amianto e aparecimento do tumor». Em Portugal, em 2011 o número de casos daquele cancro «andava à volta dos 50», mas «estou convencido, até pela minha experiência pessoal, [pois] estou a operar muitos mais casos, que a sua incidência está a aumentar», salientou o especialista. «Há três ou quatro anos, raramente me aparecia um mesotelioma para operar e este ano já operei dois ou três, quase uma média de um por mês», especificou o pneumologista. Além de retirar o amianto dos edifícios, o especialista defendeu que «as pessoas que estiveram expostas deviam fazer alguns exames, como uma TAC» (tomografia axial computorizada). É que, como na maioria das doenças oncológicas, «se conseguir diagnosticar-se e operar doentes numa fase menos avançada, é possível que consigamos alterar com algum significado a sobrevida destes doentes», explicou. A Quercus tem insistido com o Governo para apresentar uma lista com todos os edifícios públicos com amianto, desde escolas a hospitais ou bibliotecas, assim como um plano de retirada de materiais com a substância, começando por aqueles mais urgentes, ou seja, em que se verifica degradação da construção e risco de libertação de partículas. Desde a publicação de uma lista de edifícios públicos, em junho, «pouco ou nada se evoluiu, e aquela lista não é um levantamento, é uma sinalização dos edifícios que provavelmente têm amianto», disse à agência “Lusa” Carmen Lima. Carmen Lima insistiu que o ponto importante de um levantamento é «conseguir confirmar-se a existência do amianto, verificar-se o estado em que estão os materiais com amianto, qual o impacto para as pessoas e se existem efetivamente pessoas expostas». A ambientalista referiu que «haverá certamente amianto em edifícios privados utilizados como escritórios» mas também em áreas de lazer, como teatros, ou «edifícios utilizados como habitação». Não existe um enquadramento legislativo a obrigar a remoção desses materiais nos edifícios privados de habitação, ao contrário das construções usadas para trabalho, em que existe a obrigatoriedade de os empregadores protegerem os seus funcionários do risco da exposição ao amianto. |