Aumento de prescrição de anti-psicóticos a crianças preocupa médicos 14 de Dezembro de 2015 A prescrição de anti-psicóticos e outros medicamentos psiquiátricos a crianças hiperativas, com défice de atenção, agressivas ou retraídas é cada vez mais recorrente.
No ano passado, foram vendidas 276.029 embalagens de Metilfenidato (ritalina), mais 30 mil do que em 2013. Este medicamento é receitado sobretudo a crianças e adolescentes (entre os 5 e os 19 anos) e os números têm vindo a aumentar, sobretudo desde 2010, como mostra o relatório do INFARMED. Esta é uma realidade que coloca os médicos de sobreaviso. «Estou preocupadíssima com essa tendência, que já é muito expressiva em Portugal. Qualquer dia as crianças são como robôs medicados», disse ao “DN” a pedopsiquiatra Ana Vasconcelos. Opinião semelhante tem o neuropediatra Nuno Lobo Antunes, que admite receber muitas crianças «medicadas de forma errada para o problema errado. Especialmente no caso dos neurolépticos» – como o Risperdal, recomendado para a esquizofrenia, mas também usado no tratamento do autismo. O problema não é um exclusivo de Portugal. Nos EUA, por exemplo, perto de 20 mil receitas para os medicamentos psiquiátricos Risperdal e Seroquel – adequados a tratar doenças crónicas como a esquizofrenia ou a doença bipolar – foram passados a bebés de 2 anos ou menos. Um aumento de 50% relativamente aos 13 mil do ano anterior, segundo a multinacional IMS Health, citada pelo “The New York Times”. Em Portugal, esta realidade está agora a ser estudada. Álvaro Carvalho, diretor do programa nacional para a saúde mental da Direção–Geral da Saúde, adiantou ao “DN” que «há a presunção de que há um tratamento excessivo de crianças com medicamentos como a ritalina, neste caso do grupo das anfetaminas». E que por essa razão houve necessidade de, há um ano, se criar «um grupo de trabalho sobre prescrição de psicofármacos em idade pediátrica, com o objetivo de termos informações que não sejam apenas dados empíricos». A intenção é fazer normas e guidelines sobre a prescrição de medicamentos nesta área. «O que já sabemos é que há uma grande pressão devido a pedidos de prescrição aos médicos pelos pais, psicólogos ou professores para tratar a hiperatividade». E há um excesso de diagnóstico de crianças quando «se tratam problemas de comportamento», diz. «Apesar de ainda não haver dados, há elementos para nos preocuparmos». Ana Vasconcelos diz que «muitos destes medicamentos não estão adaptados a um cérebro em crescimento» como o das crianças. Cada vez mais as patologias dos miúdos têm que ver «com o medo e o stress dos pais», numa sociedade que vive «com mais sofrimento do que prazer. As crianças reagem atacando-nos». |