05 de Novembro de 2015 Portugal tem o dobro da mortalidade de Espanha por acidente vascular cerebral (AVC), registando 88,1 óbitos por cada cem mil habitantes, contra 44,9 no país vizinho, de acordo com o relatório “Health at a Glance”, ontem divulgado pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento (OCDE). Portugal está entre os países que têm a maior taxa de mortalidade por AVC, ficando em 7.º lugar entre 34, no entanto é também um dos que mais progrediram nas últimas duas décadas. De 1990 a 2013, a taxa caiu 73%. Nessa altura, havia 330 óbitos por cem mil habitantes. «Partimos de um ponto elevado. Temos uma taxa de incidência que influencia os resultados. Há fatores de risco como o excesso de sal, que está associado à hipertensão. Temos cerca de metade da população com este problema, mas grande parte não está diagnosticada ou devidamente tratada», disse ao “DN” Vítor Cruz, da direção da Sociedade Portuguesa de AVC. Em Portugal, morreram 12.273 pessoas com AVC em 2013 – mais de uma por hora -, quase o dobro das por enfarte. Além da hipertensão, há múltiplos fatores. «Desde logo o tabagismo, que ainda afeta quase 20% da população, o sedentarismo e a obesidade. Se olhar para as pessoas com 40 ou 50 anos, estas já acumulam quase sempre três fatores de risco», refere, acrescentando que também existirão fatores genéticos a explicar esta taxa da doença. Rui Ferreira, o diretor do Programa Nacional para as Doenças Cérebro-Cardiovasculares, avança que Portugal e Espanha são diferentes. «Desde logo, a mortalidade é maior do que por enfarte, o que não acontece numa grande parte dos países europeus». Ambos os especialistas estão de acordo em que há ainda diferenças na resposta ao AVC, quando se compara os valores portugueses aos espanhóis, mas não em grau tão elevado que justifique o dobro das mortes em Portugal. «As diferenças têm de ser estudadas com profundidade, mas sabemos que a organização dos cuidados é mais avançada em Espanha. São mais rápidos do que nós», assegura. Um indicador de qualidade é o que avalia a morte por AVC ao fim de 30 dias de admissão no hospital. Espanha e Portugal têm pouca diferença (9% e 10%). Vítor Cruz diz que «só metade dos doentes vão para unidades de AVC, com cuidados especializados. Outra metade é tratada em enfermarias menos especializadas. Faltam equipamentos e recursos humanos, como os neurologistas, exames rápidos que ditam os resultados logo nos primeiros dias. As pessoas que lá estão têm de agir rapidamente, antecipar eventuais complicações. A Áustria partiu do mesmo ponto que Portugal e tem uma taxa de 6%. «Ainda há pouca sensibilidade para aquela que é a nossa maior causa de morte». Rui Ferreira concorda. «Esta área tem de ser prioritária. Mas é neste caminho que temos de prosseguir. Temos falta de recursos humanos e ainda há diferenças regionais. No Alentejo e no Algarve, por exemplo, há mais mortalidade, mas também questões culturais. As pessoas têm mais receio de ir à urgência ou de chamar o INEM». |