Bastonário da Ordem dos Médicos fala em «catástrofe» na saúde 390

Bastonário da Ordem dos Médicos fala em «catástrofe» na saúde

23 de Janeiro de 2015

O bastonário da Ordem dos Médicos considerou hoje que não é possível discutir um plano de catástrofe quando a catástrofe está a acontecer no sistema de saúde e defendeu que a atual epidemia de gripe era antecipável.

Estas posições foram assumidas por José Manuel Silva no final de uma reunião que classificou como «muito importante» com o secretário-geral do PS, António Costa, na qual também esteve presente o bastonário da Ordem dos Enfermeiros, Germano Couto.

«Apesar de Portugal ser um país temperado, os idosos portugueses são particularmente frágeis, passam mais frio do que outros idosos de países europeus, possuem polipatologia, vivem sozinhos e a redução dos apoios sociais agravou o impacto negativo do inverno. Portanto, era expetável que houvesse uma maior pressão sobre o sistema de saúde», sustentou o bastonário da Ordem dos Médicos, citado pela agência “Lusa”.

José Manuel Silva disse depois que outros países que atravessaram crises financeiras, como a Islândia e a Irlanda, não desinvestiram na resposta nos seus sistemas de saúde, ao contrário de Portugal.

De acordo com o bastonário da Ordem dos Médicos, em Portugal registou-se «um aumento da procura» dos serviços de saúde, algo que «já se previa que iria ocorrer em dezembro passado».

«Já se previa que a epidemia de gripe poderia ser mais grave, nomeadamente após se detetar uma mutação de um dos vírus – e isso obrigava naturalmente a fazer-se planeamento para que o sistema estivesse preparado para responder à maior procura, mas também à menor disponibilidade de apoios sociais por causa dos cortes. Agora, estamos a viver uma situação grave, e é evidente que quando a catástrofe está a acontecer não é possível começar a discutir um plano de catástrofe», criticou José Manuel Silva.

O bastonário da Ordem dos Médicos usou também palavras duras para descrever o que se passou com casos controversos de mortalidade em algumas urgências hospitalares do país.

«Não estamos a falar de mortes nas urgências, porque acontecem sempre, mas sim de mortes sem que os doentes chegassem a ser atendidos. Esta é uma situação inaceitável, desumana e terceiro mundista», declarou José Manuel Silva.

A mesma linha de análise foi também apresentada pelo bastonário da Ordem dos Enfermeiros, que destacou as consequências do fenómeno da emigração no seu setor profissional e defendeu um maior investimento nos cuidados de saúde primários.

Neste ponto, José Manuel Silva afirmou apoiar a medida do Governo para a contratação de médicos de família em situação de reforma.

«Finalmente», exclamou o bastonário e docente universitário de Coimbra, dizendo que a Ordem dos Médicos «anda há três anos a preconizar essa mesma medida».

«Infelizmente, foi preciso chegar a esta situação de quase total descompensação para essa medida estar a ser considerada [pelo Governo]. É uma solução ideal para o sistema, já que nos últimos cinco anos se reformaram 1.400 médicos de família, na sua maioria reformas antecipadas», justificou José Manuel Silva.

José Manuel Silva defendeu ainda que a contratação de médicos de família que se encontram em situação de reforma é uma solução boa em termos de experiência e de custo qualidade para o sistema.