Bastonário defende revisão de legislação sobre nomeação dos diretores clínicos 19 de Fevereiro de 2015 A Ordem dos Médicos defendeu hoje a revisão da legislação que enquadra a nomeação dos diretores clínicos, para que os cargos possam ser ocupados por profissionais capacitados e tentar travar as demissões decorrentes da «má gestão do ministério». O bastonário da Ordem dos Médicos falava à “Lusa” a propósito das recentes demissões dos diretores de serviço do Hospital Amadora-Sintra e do diretor clínico do Hospital de Santa Maria. «O lugar de diretor clínico é muito complexo, exigente e sensível. A legislação publicada impõe tantas restrições à sua nomeação, que normalmente nunca são a primeira escolha. O diretor clínico do Amadora-Sintra foi a oitava escolha e o de Santa Maria foi a quarta escolha», afirmou José Manuel Silva. Na opinião deste responsável, a legislação que enquadra a nomeação do diretor clínico tem de ser revista, para que se possa «nomear pessoas de qualidade, bom senso, diálogo e que sejam respeitadas pelos pares das instituições». No caso do Amadora-Sintra, os diretores de serviço que puseram o lugar à disposição acusaram o Conselho de Administração e a Direção Clínica de «ausência de estratégia para evitar a contínua degradação das condições de trabalho e assistenciais» e referiram que o hospital pode estar condenado à insolvência económico-financeira no contexto das políticas de saúde em vigor. «Porque é que um diretor clinico não pode exercer outras atividades? O Amadora-Sintra tinha uma diretora clinica eficiente, com um bom relacionamento com os colegas e foi obrigada a demitir-se por causa da legislação», disse. Segundo o bastonário, o cargo de diretor clínico «é muito mal pago» e tornou-se incompatível com exercício no privado: a diretora clínica não ia deixar o consultório para manter o cargo. «Acabou por ser substituída pela oitava escolha». José Manuel Silva lembrou que o Amadora-Sintra «já foi emblemático de grande qualidade, inovador e onde os profissionais gostavam de trabalhar», mas que o Ministério da Saúde «tomou medidas, em 2011, extraordinariamente gravosas», como tornar ilegais os duplos contratos que havia, dos médicos. Ao decidir tornar ilegal uma medida que era «transparente», a tutela não só «violou o princípio da separação entre o público e o privado», como “retirou milhares de horas de trabalho aos médicos do Hospital Amadora-Sintra”. Em pouco tempo, o tempo de espera naquele hospital aumentou cinco vezes, acrescentou. Para a Ordem, as demissões são um problema estrutural subsequente às medidas tomadas pelo Ministério da Saúde. «Os livros de economia dizem que é fácil apresentar bons resultados com cortes em dois ou três anos numa empresa. Ao quarto ano há o efeito rebound, como como consequência dos cortes excessivos, que põe em causa a sobrevivência da própria empresa, que neste caso é o SNS” (Serviço Nacional de Saúde)», disse, acrescentando que as demissões são «consequências inevitáveis». Na opinião do bastonário, o que tem de ser alterado é todo o paradigma de gestão. |