O bastonário da Ordem dos Farmacêuticos (OF) considerou hoje que a falta destes profissionais nos hospitais públicos impede uma maior poupança, seja por via da preparação de medicamentos, como os biossimilares, ou da reconciliação terapêutica após a alta.
Helder Mota Filipe falou à Lusa a propósito do Top Farmácia Hospitalar 2024, uma iniciativa da Ordem dos Farmacêuticos (OF) que, pela primeira vez, avaliou e comparou a qualidade na prestação dos serviços nas farmácias hospitalares.
Dados dos doentes
Segundo o Top Farmácia Hospitalar 2024, que é hoje apresentado e que contempla distinções para várias farmácias dos hospitais públicos, em diversas áreas, no ano passado estavam 17.470 doentes em tratamento com medicamentos biossimilares (desenvolvidos depois de expirar a patente de um fármaco biológico) e 8.260 com medicamentos biológicos de referência.
Globalmente, por cada doente em tratamento com biológico de referência existem 2,1 doentes em tratamento com biossimilares.
“Dá que pensar tendo em consideração que o estudo apenas compara a utilização de biológicos em produtos que já têm biossimilares e, portanto, este é um aspeto importante”, disse o bastonário da Ordem dos Farmacêuticos, Helder Mota Filipe, lembrando que “os biossimilares são significativamente mais baratos do que os originadores”.
ULS e hospitais
A este respeito, o especialista deu o exemplo da ULS e Santa Maria, onde para um único fármaco, a intervenção do farmacêutico na utilização de biossimilares conseguiu uma poupança de 60 milhões de euros em seis meses.
“Se nós extrapolarmos isto para todos os hospitais que provavelmente têm que escolher entre preparar o mais caro, mas que é mais fácil de preparar, ou ter uma maior intervenção dos farmacêuticos no mais barato, veja a poupança que se obtinha apenas numa única situação”, explicou.
Helder Mota Filipe sublinhou que a falta de farmacêuticos no Serviço Nacional de Saúde (SNS) aparece como um ponto transversal a todos os dados recolhidos para o Top Farmácia Hospitalar: “O número de acompanhamentos farmacêuticos nas visitas médicas ou de consultas farmacêuticas feitas pelos hospitais, ou mesmo o número de reconciliações [terapêuticas] na alta são relativamente baixos”.
“Não é porque não haja necessidade ou porque os doentes não necessitam (…), mas com o número de farmacêuticos que temos no SNS é muito difícil responder a todas as necessidades”, acrescentou.
Segundo os dados recolhidos pela OF, com apoio técnico da consultora IQVIA, em 2023 existiam 712 farmacêuticos nos hospitais participantes (34 das 44 Unidade Locais de Saúde).
A informação recolhida indica ainda que menos de metade (41%) das farmácias hospitalares têm protocolos de reconciliação terapêutica durante o processo de internamento dos doentes e que, a nível nacional, esta reconciliação – em que se avalia a medicação que o doente estava a fazer para ver se precisa de a manter na totalidade face a uma nova situação clínica – apenas foram realizadas em 4,1% das altas de internamento.
“É uma área importantíssima”, afirmou Helder Mota Filipe, lamentando que não haja esta capacidade e insistindo que esta área tem um peso significativo na segurança dos doentes: “muitas vezes são doentes com terapêuticas muito complexas”.
O Top Farmácia Hospitalar analisou o desempenho na prestação de serviços em três dimensões: Consumo e Preparação de Medicamentos, Atividades Clínicas e Segurança do Doente.
Para esta primeira edição foram convidadas todas as ULS de Portugal Continental e os hospitais das Regiões Autónomas dos Açores e da Madeira. O estudo contou com uma representação de 77% (34) das unidades hospitalares do SNS, um valor que a “ultrapassou expectativas”, segundo o bastonário.
“É um exercício importante para poder partilhar com todos os hospitais, nos diferentes parâmetros que estão a ser medidos, quais os que estão a ter melhores resultados para que se saiba onde estão as melhores práticas e outros as possam adotar também”, afirmou.