A Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda amamentação exclusiva (definida como alimentar um recém-nascido exclusivamente com leite materno) até aos 6 meses de idade. Os Estados Unidos da América (EUA) e a Europa exibem as taxas mais baixas a nível global de aleitamento materno exclusivo. Dados recentes, sobre o aleitamento materno exclusivo em 21 países na Europa, mostram que, em média, 13%1 das crianças beneficiam de aleitamento exclusivo durante os primeiros 6 meses de vida. A taxa média nacional de amamentação exclusiva dos EUA é de 14,1%2, colocando a Europa e os EUA como as regiões com taxas de amamentação exclusiva mais baixas a nível global1.
Os benefícios da amamentação para a saúde da mãe e da criança estão consolidados na literatura científica3-8. Um estudo9 de 2016 da Universidade de Harvard estimou que 3340 mortes anuais prematuras de mães e bebés poderiam ser evitadas nos EUA, com uma amamentação adequada. No entanto os benefícios são mais generalizados. As mulheres que amamentam adoecem menos e, consequentemente, ausentam-se menos do trabalho.
As políticas de amamentação no local de trabalho têm, portanto, o potencial de gerar benefícios económicos substanciais, através da redução do absentismo e maior produtividade para as empresas. Evidência recente, sobre o impacto de políticas de incentivo à amamentação no local de trabalho nos EUA, demostra que as mesmas diminuem o absentismo das mães em cerca de 7 a 11 dias por ano, o que se traduz em ganhos de produtividade de cerca de $650 a $1,020 por mãe, por ano10. Esses ganhos de produtividade geram benefícios agregados mensuráveis para a economia em geral.
Um estudo de 2016 no The Lancet11 mostra que o aleitamento materno universal pode gerar 300 bilhões de dólares em ganhos económicos com a redução dos custos de saúde e melhores resultados económicos associados com a amamentação. Em última análise, as políticas de amamentação no local de trabalho promovem a igualdade de género no local de trabalho. As políticas de aleitamento materno no local de trabalho nos EUA reduziram em cerca de 25% a diferença salarial dentro do casal, entre homens e mulheres10.
A falta de políticas, no local de trabalho, favoráveis à família é frequentemente apontada como uma das razões para a falta de mulheres nos escalões mais altos no mercado de trabalho. Metade das empresas não tem mulheres em posições de liderança e cargos executivos de topo, e menos de 5% dos CEOs de empresas da Fortune 500 são mulheres12-13.
Muitos países têm licenças de maternidade e paternidade reduzidas. Nos EUA, por exemplo, não há licença maternidade obrigatória e muitas mulheres são obrigadas a usar o tempo no trabalho para cuidar dos filhos. As políticas de aleitamento materno podem encorajar as mães a voltar ao trabalho mais cedo após o parto, e reduzir o comportamento discriminatório no local de trabalho criando um ambiente de trabalho mais favorável ao equilíbrio entre responsabilidades profissionais e familiares. Uma maior diversidade de género no local de trabalho beneficia, também, as próprias empresas. De acordo com um estudo, publicado na Harvard Business Review14, as empresas com maior diversidade de género exibem lucros acima da média sectorial.
Embora estes benefícios da amamentação estejam bem documentados, ainda existem muitas barreiras à amamentação, incluindo falta de sensibilização para os benefícios da amamentação, normas sociais que retratam a alimentação com biberão de leite artificial como sendo a norma, a falta de infraestrutura e incentivos de apoio à amamentação. Estas barreiras são mais salientes para mães no mercado de trabalho. As mães, que trabalham, experienciam inflexibilidade no horário de trabalho, estigma social e dificuldade em expressar leite no local de trabalho devido à falta de instalações para amamentação e políticas inadequadas de licença de maternidade.
Uma análise recente, divulgada pelo Washington Post15, alerta para a necessidade das mães nos EUA, de expressarem leite em locais públicos, como casas de banho, nas suas mesas de trabalho, salas de conferência, ou até mesmo, em armários, por não terem acesso a instalações para amamentar ou expressar leite com higiene e privacidade. Estas condições criam claros desincentivos à amamentação, contribuindo para que a maioria das mães deixe de amamentar quando regressa ao trabalho, após o parto16.
O consenso a nível global sobre a necessidade de aumentar as taxas de amamentação exclusiva, levou à recente resolução da Assembleia Mundial da Saúde, que visa encorajar o desenvolvimento de políticas que facilitem e criem incentivos à amamentação. No entanto, houve uma, preocupante, reversão política, em julho de 2018, quando o governo de Donald Trump se opôs veementemente à resolução ameaçando implementar práticas comerciais punitivas e retirada do apoio militar a países terceiros que apoiassem a resolução.
Embora o governo dos EUA tenha posteriormente revisto a sua posição, o sucedido, em conjunção com taxas de amamentação diminutas, demonstra a fragilidade das posições políticas dos diversos países em relação à amamentação, e enfatiza a necessidade urgente de uma maior proatividade, na implementação de políticas que promovam a amamentação.
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Marisa Miraldo
(A coluna Notas da Nova é uma contribuição para a reflexão na área da saúde, pelos membros do centro de investigação Nova Healthcare Initiative – Research. São artigos de opinião da inteira responsabilidade dos autores)
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