Bial vai lançar novo medicamento para Parkinson e aposta (ainda) nas doenças raras 253

A BIAL, que comemora em 2024 cem anos de existência, tem dois medicamentos próprios, um para a epilepsia, que está no mercado desde 2009, e outro para a doença de Parkinson, lançado em 2020. Estes dois medicamentos representaram 60% das vendas totais do grupo BIAL em todo o mundo em 2023, num crescimento de 12% em relação a 2022.

A empresa dedica tradicionalmente 20% do volume de vendas a investigação e desenvolvimento (I&D) e “vai continuar assim”, disse o presidente executivo, António Portela, em entrevista à Lusa, em Madrid: “Aquilo que hoje é claro para nós é que sem termos inovação é muito difícil crescermos. Claro que podemos comprar essa inovação ou podemos desenvolvê-la internamente. Nós temos feito uma aposta muito grande em sermos nós a desenvolver, mas também temos feito algumas compras fora, para nos ajudar a crescer”.

O responsável salientou ainda que “apesar de em Portugal serem valores muito elevados, no mundo farmacêutico não são. Sentimos que precisávamos de investir mais. Portanto, o nosso compromisso é continuarmos a investir e aquilo que nós precisamos é aumentar a nossa faturação, aumentar a escala da empresa, para podermos dedicar mais meios à investigação e desenvolvimento”.

Segundo António Portela, a percentagem de 20% explica-se por permitir manter uma situação financeira equilibrada na empresa.

“O que temos tentado fazer é aumentar a escala de empresa, fazer crescer a empresa em termos de faturação, porque isso nos permitirá afetar mais à investigação e desenvolvimento”, reforçou.

 

Neurociências e doenças raras

A BIAL começou por focar a investigação nas áreas das neurociências e do cardiovascular, mas há três anos fez um balanço dos resultados, para tomar decisões para os próximos anos.

Neste sentido, a opção foi manter a aposta na área das neurociências, em que teve mais êxito, com o lançamento de dois medicamentos, e deixou cair a área cardiovascular, na qual nunca conseguiu grandes resultados.

A par do foco nas neurociências, a BIAL está também a apostar na área das doenças raras, revelou António Portela.

“Só mais para o final da década é que, provavelmente, vamos conseguir lançar o nosso próximo medicamento”, acrescentou.

A BIAL está, porém, a lançar um novo medicamento para a doença de Parkinson, uma licença de uma empresa americana cujos direitos para a Europa foram comprados pela farmacêutica portuguesa.

Segundo António Portela, a BIAL pretende ser “a empresa líder na área das neurociências na Europa”.

O novo medicamento já foi lançado na Alemanha e vai ser lançado em Espanha e Portugal em janeiro.

 

Atualização de preços

O presidente executivo defendeu uma “atualização natural” dos preços dos medicamentos com valor mais baixo, para se manterem no mercado nacional, alertando que em alguns casos é inviável para as empresas manterem a comercialização em Portugal.

António Portela destacou que o mercado português é pequeno e o país tem de ser capaz de “trazer a inovação para Portugal”, o que se traduz na aprovação de novos medicamentos, na sua comparticipação e na definição de preços.

No entanto, “muitas vezes em Portugal há preços muito baixos de medicamentos“, o que torna difícil mantê-los no mercado nacional, face aos custos de produção e distribuição.

“O custo de desenvolvimento é muito grande”, realçou António Portela.

“Portugal tem dos preços mais baixos da Europa. Existe uma atualização anual, mas que normalmente só é para baixo. Para os medicamentos de valor mais baixo devia haver uma atualização natural para cima para que os medicamentos se mantenham no mercado e para que seja viável às empresas terem os medicamentos de que as pessoas precisam”, defendeu.

Segundo António Portela, “em alguns casos chega a ser inviável” ter um medicamento no mercado, porque os custos não são compensados pelo preço, destacando que nos últimos anos houve um grande aumento da inflação, que afetou toda a cadeia de produção e distribuição em todas as áreas, não apenas a farmacêutica.

“É preciso ter essa sensibilidade”, afirmou.