Cancro oral mata mais de metade das suas vítimas 524

Cancro oral mata mais de metade das suas vítimas
26-Maio-2014

Estudo apresentado esta sexta-feira mostra que o cancro oral tem vindo a aumentar e confirma que 80% dos casos estão relacionados com o consumo de tabaco e de bebidas alcoólicas.

Mais de metade dos doentes com cancro oral (58%) não sobrevive ao fim de cinco anos. Esta é a principal conclusão do Estudo de Sobrevivência de Cancro Oral da População do Norte de Portugal, realizado por Luís Monteiro, médico dentista e professor da Cooperativa de Ensino Superior Politécnico e Universitário (CESPU), em colaboração com o IPO do Porto. Esta conclusão justifica-se, em parte, por outra: mais de 70% dos casos diagnosticados encontravam-se já em estádios muito avançados.

A principal causa da elevada taxa de mortalidade é o diagnóstico tardio dos tumores, que afectam a cavidade oral, dos lábios à garganta, incluindo as amígdalas e faringe e são causados principalmente pelo consumo de tabaco e de bebidas alcoólicas. Luís Monteiro explicou ao “Público” que o estádio do cancro aquando do diagnóstico influencia a probabilidade de sobrevivência do paciente. De acordo com a investigação que levou a cabo entre 2005 e 2006, no Norte de Portugal, «a sobrevivência ao fim de cinco anos de doentes em estádios iniciais (ou seja, com lesões pequenas) é de 85%». Por outro lado, «a sobrevivência ao fim de cinco anos de doentes em estádios avançados é de apenas 20%».

Em declarações ao “Público” a propósito de um rastreio a este cancro anunciado recentemente, o bastonário da Ordem dos Médicos Dentistas (OMD), Orlando Monteiro da Silva, já alertava: «o auto-exame é fundamental para se atuar a tempo, pois a detecção precoce aumenta a sobrevivência e permite até a cura». O bastonário afirmou que se estima que o cancro oral mate mais de 500 portugueses por ano e, de acordo com um guia Intervenção precoce do Cancro Oral da OMD, é o quinto cancro com maior taxa de mortalidade entre os homens. No entanto, cerca de 60% da população não está sensibilizada para o seu diagnóstico, constata Luís Monteiro.

Os sintomas são principalmente feridas que não cicatrizam, nódulos que não desaparecem e dores inexplicadas e constantes, explica o autor do estudo divulgado esta sexta-feira. Contudo, «mais vale prevenir do que remediar»: 80% dos novos casos estão relacionados com comportamentos de risco, como a ingerência de fumo de tabaco e de bebidas alcoólicas, pelo que a prevenção passa, numa primeira fase, por um estilo de vida saudável.

Luís Monteiro participou já numa investigação anterior, que decorreu entre 1998 e 2007 e que concluiu que Portugal é dos países na Europa com maior aumento do número de casos deste cancro, a estimativa é de aproximadamente 1.500 novos casos por ano.

Essa investigação concluiu também que, na última década, foram detectados em Portugal 9623 casos de cancro oral, 7565 em homens e 2058 em mulheres, tendo a doença aumentado a um ritmo de 4% ao ano nas mulheres. Este crescimento revelou-se sobretudo em zonas da boca relacionadas com o vírus do papiloma humano (HPV), o que reflecte a mudança de hábitos sexuais entre os portugueses.

O investigador justifica a maior incidência sobre homens, comparativamente às mulheres: «à partida, historicamente, os homens têm hábitos mais pesados de consumo de tabaco e bebidas alcoólicas». A investigação revela também que os tumores orais afectam principalmente indivíduos com mais de 40 anos, sendo que a média de idades é de 62 anos. Luís Monteiro lamenta, no entanto, que haja cada vez mais vítimas jovens, não só em Portugal, mas também noutros países da Europa.

Luís Monteiro considera fundamental, portanto, «consciencializar a população e promover rastreios». Atualmente, já há várias iniciativas a decorrer, como o rastreio promovido pela Ordem dos Médicos Dentistas, que se insere no Programa Nacional de Promoção da Saúde Oral.