A mãe das gémeas disse hoje à comissão de inquérito que nunca conheceu ou se dirigiu pessoalmente ao Presidente da República, ou ao filho, assumindo que mentiu quando falou numa rede de influência que favoreceu as crianças.
“Nunca conheci nem me dirigi pessoalmente ao senhor Presidente da República ou ao seu filho, Dr. Nuno Rebelo de Sousa”, afirmou Daniela Martins, citada pela lusa.
A mãe das crianças está a ser ouvida hoje na comissão parlamentar de inquérito ao caso das gémeas luso-brasileiras tratadas no Hospital de Santa Maria, em Lisboa, com o medicamento Zolgensma, um dos mais caros do mundo.
“Numa conversa, supostamente informal, vangloriei-me e afirmei ter havido uma rede de influências em que os médicos começaram a receber ordens de cima. Sobre isso, só posso pedir imensa desculpa a toda a gente de Portugal. Fui parva, errei, e errei porque disse algo que não era verdade por vaidade naquele momento”.
A mãe das gémeas disse também ter sido uma “frase falsa e infeliz” ter dito que conhecia a mulher de Nuno Rebelo de Sousa.
“Afirmei que conhecia a nora do Presidente da República, mas a verdade é que somente a conheci num evento de Natal em São Paulo, anos depois da medicação”, referiu.
Na sua intervenção inicial, Daniela Martins recusou ter vindo para Portugal “fazer turismo de saúde”, salientando que é cidadã portuguesa “há mais de 15 anos”. Quanto às meninas, indicou que são cidadãs portuguesas desde setembro de 2019 e que o processo foi iniciado junto do Consulado português de São Paulo em abril desse ano”, sendo que “nessa época, não havia suspeita de doença”, indicou, assinalando que as crianças receberam o diagnóstico “no dia 09 de setembro de 2019”.
Daniela Martins referiu também que o plano da sua família era mudar-se para Portugal assim que as crianças “tivessem autonomia para isso”, mas que essa intenção foi antecipada por conta da possibilidade de tratamento em Lisboa.
A mãe descreveu como o diagnóstico e os internamentos nos cuidados intensivos a afetaram. “Em menos de três meses de internamento foram para o bloco cirúrgico 10 vezes. Não podem nem sequer imaginar o momento que eu e a minha família passámos”, afirmou.
Daniela Martins referiu que foi nessa altura que teve conhecimento do medicamento Zolgensma e que, como não tinha possibilidade financeira para pagar este tratamento, começou uma angariação de fundos pela internet no Brasil, contactou o laboratório responsável e pediu o visto americano, uma vez que também era aplicado naquele país.
“Nessa mesma época, começámos o envio para médicos e hospitais aqui em Portugal”, disse, indicando que foi feito “um email de apresentação padrão” com informação e o relatório médico das meninas e foi enviado por si “e por pessoas que disseram que ajudariam”.
A mãe das crianças disse também desconhecer que poder ter-se dirigido com as crianças a um serviço de urgência e que dessa forma as “meninas teriam acesso ao SNS” e recusou que tenham “passado à frente” de outras.
Daniela Martins endereçou também várias críticas à comunicação social e à exposição mediática que o caso teve e acusou a TVI de ter montado “uma armadilha” e que foi gravada na sua casa, “com uma câmara escondida, por uma pessoa que disse ser um técnico de equipamentos”.
E falou em “notícias fantasiosa”, uma “exposição mediática despreocupada com as crianças” e “declarações falsas que estimularam uma onda de ódio”, lamentando que não tenha existido intervenção de nenhuma entidade e indicando que apresentou uma queixa-crime.