Caso das gémeas: Médica revela que houve um pedido superior ao de Lacerda Sales para marcar consulta 150

A neuropediatra responsável pelo tratamento das gémeas luso-brasileiras afirmou hoje que lhe foi transmitido que houve um pedido para marcação de consulta com uma origem “superior à secretaria de Estado” da Saúde, embora não saiba de quem.

Teresa Moreno, ouvida hoje (11) na comissão parlamentar de inquérito ao caso das gémeas, disse, citada pela Lusa, que, depois de dois telefonemas da diretora de departamento a pedir a marcação de consulta para as gémeas luso-brasileiras a pedido da secretaria de Estado da Saúde e do ex-secretário de Estado, António Lacerda Sales, lhe foi dito, num terceiro contacto, que o pedido teve um origem superior, que não foi identificada.

A neuropediatra declarou que foi a sua diretora de departamento, Ana Isabel Lopes, que lhe passou essa informação, anteriormente transmitida pelo diretor clínico, Luís Pinheiro.

A médica explicitou, em resposta ao deputado socialista João Paulo Correia, que não sabia a quem se referia a diretora de departamento quando falava de alguém “acima da secretaria de Estado”, mas que em conversas informais entre profissionais do hospital se afirmava, embora sem qualquer informação concreta e apenas no “plano da confabulação”, que “acima da secretaria de estado estão a ministra e o Presidente”.

“Estamos a entrar no plano da confabulação, que é uma coisa que não é lógica. Eu digo o que eu ouvi. O que os outros sabem, compete-vos a vocês investigar, não é?”, disse, dirigindo-se aos deputados da comissão de inquérito.

O deputado João Paulo Correia afirmou, após esta resposta, que “não era por acaso que corriam pelos corredores do Hospital de Santa Maria os rumores de que teria havido uma interferência do Presidente da República”, frisando que isso foi dito pelo então presidente do Hospital numa reportagem televisiva, embora não houvesse qualquer evidência.

 

Mãe mandou email à médica

Teresa Moreno disse ainda que “o primeiro contacto que tenho com a mãe das gémeas é no dia 14 de novembro [de 2019]. Manda-me um email a dizer: Sou a senhora Daniela Martins, sou a mãe das gémeas, penso que já deve ter ouvido falar do meu caso. É aí o primeiro contacto, ao qual eu não respondi”, indicou a médica, ainda de acordo com a Lusa, em resposta ao deputado do PCP, Alfredo Maia.

Na sua audição, no âmbito da comissão parlamentar de inquérito ao caso das crianças tratadas com o Zolgensma em 2020, a médica salientou que não lhe caberia a si decidir uso da medicação.

“Não me caberia a mim decidir. Até pelos custos escandalosos que isto implica e existindo – e isto é ponto importante – uma medicação que na altura já era uma medicação alternativa. […] Estávamos em 2019, onde nós estávamos a fazer uma medicação que tem bastante valor e que não impediria que houvesse um desfecho fatal. Eu não estava a escolher entre [tudo ou] nada e todas estas crianças que me contactaram já estavam a fazer Nusinersen”, salientou.

Teresa Moreno recordou ainda que foi “contactada várias vezes” por vários lusodescendentes que souberam do tratamento e queriam tratar dos seus filhos em Portugal. “[Além da mãe das gémeas], um colega abordou-me no hospital, um telefonema de outra colega, um telefonema de um familiar, pedindo a medicação”, contou.