Células estaminais do cordão umbilical promovem recuperação de lesão cerebral provocada por traumatismo craniano 223

As células estaminais do tecido do cordão umbilical, obtidas de forma simples após o parto, são capazes de atenuar a lesão neurológica decorrente de um traumatismo cranioencefálico, com possível impacto na minimização das sequelas e melhor recuperação dos doentes. A conclusão é do estudo em modelo animal, publicado na revista científica Brain Research, que indica que este efeito benéfico se deve às características anti-inflamatórias e regenerativas destas células.

Os traumatismos cranianos constituem uma das principais causas de lesão neurológica em adultos, podendo causar graves sequelas ou, até mesmo, a morte. Após o processo primário de lesão neurológica, que acontece nos primeiros minutos após um traumatismo craniano e é irreversível, segue-se um processo secundário de lesão neurológica, atribuível, em grande parte, à inflamação do cérebro, que ocorre como resposta do organismo para controlar potenciais infeções e reparar as zonas lesadas.

“Embora possa ser inicialmente benéfica, esta resposta inflamatória persistente acaba por agravar a lesão cerebral sofrida”, explica a Dr.ª Bruna Moreira, investigadora do Departamento de I&D da Crioestaminal. “À procura de uma resposta para conter a lesão neurológica decorrente de um traumatismo craniano, vários ensaios clínicos estão a testar novos agentes terapêuticos, entre os quais a aplicação de células estaminais mesenquimais do tecido do cordão umbilical, que se tem destacado pelos seus efeitos anti-inflamatórios e regenerativos, bem como pelo seu perfil de segurança muito favorável”, acrescenta.

O estudo agora publicado pretendeu analisar os mecanismos subjacentes a esse efeito benéfico, incidindo na hipótese de que estas células promovem a regulação da resposta inflamatória que ocorre após um traumatismo craniano.

Os autores começaram por avaliar as diferenças na proporção de células pró- e anti-inflamatórias no sangue de doentes que sofreram traumatismo craniano, relativamente a pessoas saudáveis, e verificaram que nos primeiros havia uma proporção aumentada de células pró-inflamatórias. De seguida, avaliaram, em modelo animal, se a administração de células estaminais do tecido do cordão umbilical poderia repor o equilíbrio entre os dois tipos de células.

Nas suas experiências, descobriram que o tratamento com estas células aumentou a proporção de células anti-inflamatórias. Adicionalmente, o tratamento com células estaminais do cordão umbilical em modelo animal esteve associado a uma redução significativa da gravidade da lesão neurológica e a uma melhor recuperação cognitiva após traumatismo craniano. Ao investigar os mecanismos subjacentes, concluiu-se que, além do seu efeito anti-inflamatório, estas células promovem a regeneração da zona afetada através da estimulação do desenvolvimento de novos neurónios.

Com vista à sua implementação na prática clínica, os autores defendem a realização de ensaios clínicos que avaliem a segurança e eficácia desta estratégia em doentes humanos.