Centro de saúde da Santa Casa abre na segunda-feira no bairro da Liberdade, em Lisboa
7 de julho de 2014
A Santa Casa da Misericórdia inaugurou, na sexta-feira, um centro de saúde de proximidade que prestará cuidados primários a mais de 7.500 habitantes dos bairros da Liberdade e da Serafina, em Campolide, Lisboa, a partir de segunda-feira.
«Este bairro [da Liberdade] é uma bofetada na cara de todas as pessoas que têm conforto, que têm trabalho e que podem viver o seu dia-a-dia com menos preocupação. É extraordinário como no centro de uma cidade existem pessoas que vivem desta maneira», disse o provedor da Santa Casa de Lisboa, Pedro Santana Lopes, na inauguração.
Santana Lopes referia-se às muitas casas sem água canalizada, infraestruturas ou saneamento básico que existem em ambos os bairros, onde «há pessoas que vivem quase em prateleiras, casas muito apertadas», a maioria imigrantes, grande parte deles indocumentados, além de muitas famílias carenciadas.
Foi por isso que a Santa Casa entendeu abrir ali, na cave do Centro Social Paroquial de São Vicente Paulo, uma unidade de saúde, «na qual as pessoas, em princípio, podem receber cuidados de saúde a título gratuito, mas mediante processos que estão estipulados», disse.
«Muitas vezes as pessoas não têm a situação regularizada, nem meios de transporte, nem dinheiro para ir às urgências ou receberem determinado tipo de tratamentos», destacou, acrescentando que «quem não pode, vai ser tratado à mesma», apesar da «filtragem cuidadosa» em relação a quem precisa de facto.
A Santa Casa tem já outras sete unidades de saúde semelhantes e ainda três extensões de saúde em outros bairros mais carenciados de Lisboa e em breve vai também «ficar com responsabilidades na área da Musgueira», num espaço equivalente a este do bairro da Liberdade.
Santana Lopes salientou, segundo a “Lusa”, que «o papel da Santa Casa não é fazer polémicas com o Governo».
No entanto, já não é a primeira vez que manifesta publicamente «preocupação pela distância dos cuidados de saúde em relação aos territórios onde estão populações mais isoladas ou mais desprotegidas».
«Acho que, seja qual for a ideologia, seja qual for o Governo ou o sistema politico, a saúde será sempre um bem primeiro, faz parte da condição humana e, por isso, naturalmente, assisto com preocupação a estas transformações do papel do Estado», disse, salientando que as Misericórdias que têm meios «podem-se chegar à frente», assim como as Instituições de Solidariedade Social, «mas então criem-lhes também condições legislativas e outras que são precisas».
O provedor referia-se, nomeadamente, à lei de bases de economia social que «precisa de regulamentação».
Na adaptação do edifício ao centro de saúde, a santa casa gastou 50 mil euros e em relação aos gastos de funcionamento tem uma estimativa que «está perfeitamente controlada em termos do orçamento de saúde».
De acordo com a Santa Casa, em 2013, as sete unidades e a três extensões de saúde que tem em bairros de Lisboa registaram 24.624 utentes com cartão válido (cartão que identifica o utente), um acréscimo de 9,5% face a 2012.