Centro Materno-infantil inaugurado 30 anos depois pelo «governo que o quis sabotar»
07-Maio-2014
Unidade vai ter 45 valências e terá capacidade para 4.500 partos por ano. Esta foi, porém, a inauguração da primeira fase. Falta ainda iniciar as obras de reabilitação do antigo edifício da maternidade e a construção do parque de estacionamento de 314 lugares.
O Centro Materno-Infantil (CMIN) foi esta terça-feira finalmente inaugurado após uma espera de mais de 30 anos, desde que foi inicialmente idealizado. «É uma ironia ter sido inaugurado pelo Governo que o quis sabotar e que tanto fez para impedir a sua construção tentando sempre protelar. Agora deu jeito, compreendo, para cumprir calendário eleitoral», disse ao “Público” o vereador da Habitação e Ação Social na Câmara do Porto e ex-secretário de Estado da Saúde, Manuel Pizarro.
Também o presidente do conselho de administração do Centro Hospitalar do Porto (CHP), Sollari Allegro, lamentou as dificuldades vividas até à abertura do CMIN. «Até aqui o caminho não foi fácil e foi posto em causa por pequenos poderes. Houve boatos e maledicências vindos de outras unidades que se sentiram ameaçadas», referiu o médico na abertura da unidade, junto à Maternidade Júlio Dinis, numa cerimónia que contou com a presença do primeiro-ministro, Pedro Passos Coelho, do ministro da Saúde, Paulo Macedo, e do presidente da Câmara do Porto, Rui Moreira.
Os governantes foram apupados à entrada por cerca de 30 manifestantes que, com cartazes, pediram a demissão do Governo. Aliás, perto da maternidade mantém-se um cartaz do PS onde se lê: “CMIN: este Governo não queria, mas o Porto venceu!”.
Manuel Pizarro, que também esteve presente e que enquanto governante desbloqueou a construção da obra que custou mais de 50 milhões de euros, diz que foi, apesar das criticas, um «dia de festa para todos os portuenses».
Esta foi, porém, apenas a inauguração da primeira fase do complexo e de um edifício ainda quase sem equipamento. «O material necessário para encher os espaços está na maternidade. Ao contrário do que se costuma fazer neste país, vamos aproveitar tudo», esclareceu o presidente do conselho de administração do CHP.
Sollari Allegro já havia explicado que a abertura do CMIN, programado desde 1991 como parte do CHP, «sempre esteve prevista em três fases». Até ao final de Maio será transferido o equipamento que está ainda na maternidade e só em Julho estará em funcionamento o internamento da pediatria. O serviço de consultas, contudo, já está a funcionar. Até ao final deste mês abrem o primeiro bloco de partos, o serviço de neonatologia e os internamentos de ginecologia e de obstetrícia. Estes serviços ainda estão a funcionar na Maternidade Júlio Dinis.
O CMIN receberá o nome de Albino Aroso, como forma de homenagear o médico, que faleceu recentemente, pelos serviços que prestou ao país em matéria de promoção do planeamento familiar e da saúde materna e infantil.
A conclusão do conjunto da obra estava prevista para setembro de 2013, mas a inauguração desta terça-feira ocorreu sem que tivessem sido iniciada a reabilitação do antigo edifício da maternidade e a construção do parque de estacionamento de 314 lugares. O também líder da concelhia do PS/Porto, Manuel Pizarro, não compreende «como é tão difícil conseguir impulsionar a construção de um parque de estacionamento com tantos lugares e que se prevê ser um bom negócio». Pizarro criticou ainda que, durante três anos, «o Governo não tenha transferido um cêntimo para o CHP, causando graves dificuldades na gestão financeira da unidade».
«Nenhum governo faz de supetão uma obra»
Já o primeiro-ministro, Pedro Passos Coelho, desdramatizou o atraso na construção e considerou que o CMIN é um «projeto ambicioso idealizado há mais de 30 anos e que só agora teve condições para emergir». Passos afirmou que houve governos que «tomaram decisões» e outros que foram «sonhando e executando o projeto ao longo dos anos». Aliás, o primeiro-ministro referiu que «nenhum Governo faz de supetão» uma obra deste tipo.
O ministro da Saúde, por seu lado, não comentou as críticas durante o seu discurso. Paulo Macedo fez antes questão de sublinhar que o CMIN terá capacidade para 4.500 partos por ano e que na área da saúde «a região norte não é prejudicada face ao sul», havendo «bons indicadores sobre isso». «[Recentemente] abrimos até o centro de reabilitação do Norte», observou.
O ministro salientou ainda que é no Norte que se localiza o «maior número de unidades de saúde familiar e de unidades de continuados» e que o CMIN concentrará o único banco de gâmetas do país. Paulo Macedo considerou, porém, que o CMIN, que vai contar com 45 valências de atendimento direcionadas para a mulher e para a criança, é um «mau exemplo de planeamento».