Chefes e subchefes das urgências de obstetrícia do Santa Maria demitem-se 246

Os chefes e subchefes das equipas de urgência, com exceção de um, do serviço de obstetrícia do Hospital Santa Maria, em Lisboa, apresentaram demissão do cargo, confirmou esta sexta-feira à agência Lusa a Federação Nacional dos Médicos (FNAM).

Contactado pela agência Lusa, o Centro Hospitalar Universitário Lisboa Norte (CHULN) avançou que “os 11 médicos que fazem parte da Direção Clínica do CHULN vão reunir-se esta tarde para discutir esta questão”.

Sobre as razões da demissão dos responsáveis, que foi avançada pela SIC Notícias, a presidente da FNAM, Joana Bordalo e Sá, afirmou que vem na sequência do Conselho de Administração ter comunicado o encerramento do serviço de obstetrícia devido às obras da nova maternidade do Hospital Santa Maria, que integra o CHULN.

Joana Bordalo e Sá adiantou que inicialmente os médicos do serviço de obstetrícia/ginecologia “preocupados com as grávidas, com os fetos, com os bebés e com os protocolos de ação para garantir a qualidade de excelência que eles estão habituados a praticar no Santa Maria”, escreveram uma carta “só a perguntar como é que isso ia ser assegurado no Hospital São Francisco Xavier, uma vez que sabem que esse serviço de urgência é maioritariamente prestado por prestadores de serviço que não seguem necessariamente o protocolo a que eles estão habituados e que é o que garante a qualidade e a segurança das grávidas, dos fetos e dos bebés”.

Depois dessa carta que foi subscrita pela esmagadora maioria dos médicos do serviço, mais de 30, incluindo o então diretor do Serviço de Ginecologia e Obstetrícia, Diogo Ayres de Campos, e da diretora de Obstetrícia, Luísa Pinto, “o conselho de administração, por uma decisão política” afastou estes dois responsáveis, salientou.

Na carta, enviada à administração a meio deste mês, os médicos manifestam-se igualmente preocupados com a capacidade instalada no São Francisco Xavier, admitindo que poderia haver sobrelotação.

Entretanto, os profissionais do serviço escreveram uma segunda carta a apoiar os diretores demitidos e começaram a entregar pedidos de escusa para não fazerem mais do que as 150 horas extraordinárias anuais previstas por lei.

“O Conselho de Administração resolveu reunir-se com os médicos na quarta-feira, onde levou ameaças”, disse Joana Bordalo e Sá, precisando que “as ameaças foram que lhes iam cancelar as férias e que iam ter que devolver o dinheiro das horas extraordinárias já feitas”.

“Perante isso, os chefes de equipa obviamente não tiveram outra atitude que não a sua demissão”, vincou a presidente da FNAM.

Na segunda-feira, o CHULN divulgou a decisão de afastar a direção do Departamento de Obstetrícia, Ginecologia e Medicina de Reprodução (que inclui Diogo Ayres de Campos e a diretora de Obstetrícia, Luísa Pinto).

Na altura, o CHULN alegou que a direção deste departamento tem vindo assumir posições que, “de forma reiterada, têm colocado em causa o projeto de obra e o processo colaborativo com o Hospital São Francisco Xavier, durante as obras da nova maternidade do HSM [Hospital Santa Maria]”.

O que está previsto é que enquanto o bloco de partos do Hospital de Santa Maria estiver fechado para obras – nos meses de agosto e setembro – os serviços fiquem concentrados no Hospital S. Francisco Xavier (Centro Hospitalar Lisboa Ocidental), que encerrava de forma rotativa aos fins de semana e, a partir de 01 de agosto, volta a funcionar de forma ininterrupta sete dias por semana.