Cientista aponta mudanças na bactéria da pneumonia que podem levar a novos medicamentos 01 de outubro de 2014 O trabalho de uma cientista portuguesa concluiu que a bactéria pneumococcus, responsável por doenças como pneumonia ou meningite, é capaz de se transformar e assumir seis formas diferentes, descoberta que pode contribuir para o desenvolvimento de novas terapêuticas. «Analisando os genes desta bactéria, descobrimos um sistema que gera aleatoriamente seis formas diferentes da mesma bactéria e cada uma delas pode conferir-lhe diferentes vantagens em diferentes situações, o que é uma grande arma para a sua sobrevivência e uma maior dificuldade para o homem para travar as infeções por ela causadas», disse ontem à agência “Lusa” a investigadora Ana Sousa Manso. A cientista, que está a terminar o doutoramento em Biotecnologia Médica na Universidade de Siena, em Itália, em parceria com a Universidade de Leicester, no Reino Unido, explicou que se trata de «uma forma rápida de estas bactérias se adaptarem aos ambientes de stress em que se encontram», e que podem ser o contacto com novas drogas, exposição a antibióticos ou a diferentes temperaturas. Quando questionada acerca da utilização desta informação para obter novas formas de combater as doenças provocadas por estas bactérias, a cientista referiu que é necessário percorrer «um longo caminho ainda, porque isto é o início de uma investigação», mas admitiu que «abre portas para um combate mais eficaz», no futuro. Para Ana Sousa Manso, é importante continuar a estudar as bactérias e olhar para estes micróbios de perspectivas diferentes para se encontrarem curas e vacinas alternativas àquelas que atualmente existem. O trabalho, publicado ontem na revista “Nature Communications”, foi desenvolvido por um grupo de investigadores da universidade britânica, em colaboração com especialistas internacionais, e estudou bactérias que se podem encontrar na zona interna do nariz, a nasofaringe, em 30% da população, na sua maioria crianças. Naquela zona, estas bactérias estão presentes de uma forma assintomática, não são prejudiciais para a saúde, «mas podem tornar-se invasivas, deslocar-se para outras partes do organismo e provocar doenças», referiu Ana Sousa Manso. A cientista explicou que «não se sabe o que provoca esta mudança», que leva as bactérias a darem origem a «problemas simples», como otites, sinusites ou conjuntivites, mas também as «doenças graves», como a pneumonia e a meningite. «Descobrimos na bactéria um sistema que casualmente muda e, em vez de estarmos a olhar para uma, é como se estivemos a olhar para seis bactérias diferentes, é um mesmo agente com seis máscaras diferentes, que podem mudar de uma para outra, a qualquer momento», uma capacidade comum a outro tipo de bactérias, disse Ana Manso. Até agora, os especialistas encaravam esta e outras bactérias como uma só, mas esta descoberta «muda a forma como, a partir de agora, a comunidade científica olha para estas e outras bactérias e, consequentemente, as estratégias para o desenvolvimento de novos fármacos que as combatam têm também de mudar», referiu ainda a investigadora. |