Cientistas alertam parlamento para presença de bactérias resistentes no rio Ave 04 de Maio de 2016 Cientistas da Universidade do Porto afirmaram ontem no parlamento que a existência de bactérias multirresistentes no rio Ave constitui um perigo para a saúde pública, defendendo a necessidade de se melhorar o sistema de tratamento das águas residuais. Em causa está a descoberta, nas águas do rio Ave, no norte do país, da presença de quatro estirpes de bactérias com grande capacidade de resistência aos antibióticos, incluindo aqueles que se usam exclusivamente nos hospitais para tratamento de infeções graves, noticiou a “Lusa”. A equipa responsável por esta investigação, liderada pelo cientista Paulo Martins Costa, do Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar (ICBAS), esteve esta tarde no parlamento, na Comissão de Ambiente, Ordenamento do Território, Descentralização, Poder Local e Habitação, para falar dos impactos da sua descoberta. «Estamos a falar de bactérias com uma grande capacidade de se desenvolver e transmitir e cujo impacto no nosso organismo nós desconhecemos. O meio aquático é um meio bastante propício para que isso ocorra», explicou Paulo Martins Costa aos deputados. O cientista referiu que um dos aspetos que mais intrigaram a equipa de investigação foi o facto de nenhuma das bactérias multirresistentes encontradas ter sido detetada em unidades de saúde da região. «Foi o aspeto mais misterioso deste trabalho, porque os efluentes hospitalares seriam a fonte mais natural», sublinhou. Noutra perspetiva, Paulo Martins Costa lamentou que a investigação médica não tenha proporcionado o aparecimento de novos antibióticos. «A verdade é que as bactérias têm conseguido desenvolver mecanismos de atuação rápida e uma capacidade de se reproduzir com facilidade e a medicina está a deixar de ter possibilidade de intervir», apontou. Contudo, o investigador da ICBAS considera que não se trata de «uma causa perdida» e que existem formas de tentar combater o surgimento deste tipo de bactérias. «Temos de ter uma abordagem holística do problema, tratar os efluentes de uma forma mais eficaz. Isso implica um maior investimento nas melhorias dos sistemas de tratamento de águas residuais», defendeu. Por fim, Paulo Martins Costa não descartou a possibilidade de existirem estirpes de bactérias multirresistentes noutros cursos de água portugueses. |