Cientistas criam “transporte” de quimioterapia ativado nas células cancerígenas
24 de maio de 2017 Uma equipa internacional de cientistas criou um “transporte” de quimioterapia que chega ao local de produção das células estaminais cancerígenas, aumentando o impacto do tratamento e sem efeitos secundários noutros locais, anunciou a Universidade de Coimbra. Um grupo de investigadores de quatro países, liderado pelos portugueses Lino Ferreira e Ricardo Neves, do Centro de Neurociências e Biologia Celular (CNC) da Universidade de Coimbra (UC), criou «um “transporte” de quimioterapia que chega ao local onde se produzem as células estaminais cancerígenas (CEC) e que atua através de controlo remoto», afirma a UC numa nota enviada hoje à agência “Lusa”. «As nanopartículas que transportam a quimioterapia permanecem inativas até serem ativadas na chegada ao “nicho leucémico”, local da medula óssea onde se encontram as CEC que dão origem a todas as células da leucemia», explica a UC. A ativação realiza-se por controlo remoto, através da projeção de luz azul sobre as nanopartículas que transportam a quimioterapia. A investigação, publicada na revista Nature Communications, descreve «uma formulação de nanopartículas aplicada em ratinhos com leucemia que se foca no papel do “nicho leucémico” na progressão da doença» e na resistência à quimioterapia. «O nicho é altamente protetivo das células estaminais leucémicas que aí se encontram, tornando difícil a sua erradicação através da quimioterapia convencional», acrescenta a UC, referindo que «a proteção descrita é, muitas vezes, responsável pelo regresso da doença após tratamento». Lino Ferreira e Ricardo Neves, coordenadores da equipa que também envolve cientistas da China, de Espanha e do Reino Unido, provaram que é possível utilizar células leucémicas como agentes de transporte de quimioterapia. «Estas células conseguem encontrar o nicho leucémico, utilizando o seu sistema de “GPS natural” e, dessa forma, criam a oportunidade de colocar a nanopartícula, cheia de quimioterapia, junto do reservatório de células responsáveis pelo perpetuar da doença», salienta Ricardo Neves, citado pela UC. Deste modo – afirma ainda o investigador – «torna-se possível despoletar a libertação da quimioterapia, por ação da luz, e ter maior impacto no local e consequentemente na doença, evitando também os efeitos secundários noutros locais». De acordo com Lino Ferreira, «este tipo de tecnologia pode vir a ser utilizado num contexto terapêutico através da utilização de moléculas sensíveis à luz com infravermelho, cuja radiação é menos energética, mas mais segura para utilização no organismo que a luz azul». A descoberta poderá ter «aplicações práticas no tratamento do cancro e em outras áreas, sendo que no contexto da leucemia pode ajudar a erradicar as células do nicho da medula óssea doente», sublinha o especialista. A tecnologia do estudo poderá também ser utilizada para «ajudar as células transplantadas a reconhecer a medula óssea do paciente como a sua “nova casa” e aí permanecerem, contribuindo para a produção constante de sangue durante o resto da sua vida», explicita a UC na mesma nota. As células transplantadas levam consigo as nanopartículas desenvolvidas neste trabalho do CNC, fazendo o seu percurso normal no organismo, sendo ativadas quando chegam à medula óssea do paciente porque recebem um estímulo luminoso que lhes sinaliza o final da viagem. A investigação foi financiada por fundos europeus, através de diversos programas, e pela Fundação para a Ciência e Tecnologia (FCT). |