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Cientistas descobrem composto em fungo marinho da Tailândia com ação antibiótica

12 de Abril de 2016

Investigadores da Universidade do Porto (UP) descobriram um novo composto a partir de um fungo marinho isolado nos mares da Tailândia com uma «potente ação antibiótica» e já registaram a patente provisória, informou hoje fonte oficial.

«A descoberta de um novo composto – Neofiscalina A – com uma potente ação antibiótica representa uma boa notícia», declarou à “Lusa” Paulo Martins da Costa, professor e investigador no Instituto de Ciências Biomédicas de Abel Salazar (ICBAS), a instituição da UP que estudou o novo composto, no âmbito de um projeto do Centro Interdisciplinar de Investigação Marinha e Ambiental (CIIMAR).

O composto tem forte ação inibitória sobre bactérias responsáveis por importantes infeções hospitalares, designadamente as bactérias Staphylococcus aureus e Enterococcus faecalis, multirresistentes aos antibióticos usados na prática clínica, e os direitos sobre a descoberta estão já protegidos por uma “patente provisória”, estando-se a desenvolver esforços para a sua internacionalização, avançou o cientista.

A Neofiscalina A foi isolada a partir de culturas de um fungo marinho isolado nos mares da Tailândia e estudada no ICBAS, ao abrigo de um protocolo de cooperação com a Universidade de Kasetsart em Banguecoque (Tailândia), explicou o especialista.

O «inusitado da descoberta reside no facto destas bactérias, e dos genes que transportam, não estarem descritos em algum isolado clínico hospitalar obtido em Portugal», observou o investigador, referindo que a descoberta tem uma «grande relevância em termos de saúde pública pelo facto de acentuar a convicção destas bactérias com grande capacidade de resistir aos antibióticos emergirem em primeiro lugar no meio ambiente e, somente mais tarde, serem detetadas no meio hospitalar».

«Trata-se de uma corrida contra o tempo, em virtude de estarmos a perder a batalha no tratamento das infeções microbianas. A rápida emergência e disseminação de bactérias resistentes a antibióticos de última linha tem assumido proporções inimagináveis e está a deixar os médicos sem opções terapêuticas», explica Paulo Martins da Costa.

Estão a aparecer vagas sucessivas de surtos de bactérias multirresistentes, quer em hospitais, quer na comunidade, como por exemplo aconteceu na Alemanha em 2011, em Gaia em 2015, ou ainda ontem no Centro Hospitalar de São João (Porto), onde foram detetados nove casos de doentes portadores de bactérias que não estão a responder aos antibióticos.

Estas crises têm como denominador comum o facto de não existirem antibióticos eficazes para o tratamento destas infeções.

O projeto, denominado “Marbiotech – Pesquisa de compostos naturais extraídos de microrganismos marinhos para aplicações ecológicas e farmacológicas”, foi parcialmente financiado pelo Programa Operacional Regional do Norte, ao abrigo do Quadro de Referência Estratégico Nacional.

O Gabinete de Inovação da Universidade do Porto iniciou os contactos com empresas farmacêuticas no sentido de se dar continuidade às próximas etapas até à disponibilização para uso médico.

Recentemente foram isoladas na água do Rio Ave, Norte de Portugal, quatro estirpes de bactérias todas Escherichia coli, com grande capacidade de resistência aos antibióticos, incluindo aqueles que se usam apenas nos hospitais para tratamento de infeções graves. Em 2010, o mesmo grupo de investigação isolou no rio Ave uma estirpe portadora dos genes de resistência que viriam a ser identificados na Klebsiella pneumoniae, que causou o surto de infeção hospitalar de Vila Nova de Gaia.