Cientistas da Fundação para a Promoção da Saúde e Investigação Biomédica da Comunidade Valenciana (Fisabio), em Espanha, identificaram bactérias da microbiota intestinal que protegem contra patógenos, que podem causar doenças, resistentes a antibióticos.
O estudo, realizado pelo grupo de investigação “Microbiota, Infeção e Inflamação”, revela que cinco variantes de diferentes bactérias da microbiota intestinal esgotam os nutrientes necessários para o crescimento daqueles patógenos, indica a Fisabio, segundo a agência noticiosa espanhola EFE. Acrescenta que os resultados da investigação podem dar origem a novas estratégias não baseadas em antibióticos para prevenir infeções causadas por organismos multirresistentes.
O trabalho, divulgado na revista científica “Nature Communications”, contou com a colaboração de cientistas do Instituto de Investigação Sanitária La Fe, em Valência, do CIBER em Epidemiologia e Saúde Pública e do Centro de Investigação Médica Aplicada da Universidade de Navarra, em Espanha, assim como da Universidade de Lausanne e da Escola Politécnica Federal da mesma cidade suíça.
“Trata-se de uma descoberta relevante, pois a resistência aos antibióticos é um dos mais importantes problemas de saúde pública que a sociedade enfrenta atualmente”, refere o investigador Carles Úbeda, que liderou o estudo, citado pela EFE, por sua vez citada pela Lusa.
Os cientistas descobriram em modelos animais que o agrupamento de estirpes bacterianas dos géneros “Alistipes”, “Barnesiella”, “Olsenella”, “Oscillibacter” e “Flavonifractor”, naturalmente presentes na microbiota intestinal, esgotam os nutrientes necessários para o crescimento de bactérias do género “Enterococcus”, responsáveis por diversas infeções.
Multirresistentes aos antibióticos, estes patógenos são especialmente afetados pela perda de um tipo de açúcar chamado frutose (existente nos frutos), que se encontra habitualmente na nossa dieta. A deficiência nutricional impede o crescimento ideal dos patógenos, protegendo assim o organismo contra infecções.
“Utilizando ratinhos, mostrámos que a administração dessas bactérias comensais (que vivem no nosso organismo) diminui a capacidade do patógeno de colonizar o intestino, etapa fundamental para o desenvolvimento da infeção e da transmissão entre pacientes”, explica Úbeda.
Estes tipos de patógenos estão entre a terceira e quarta causas mais prevalentes de infeções em doentes hospitalizados e podem causar a morte por dificuldade de tratamento, devido à sua resistência à maioria dos antibióticos disponíveis atualmente.
Por esse motivo, encontram-se entre os patógenos multirresistentes de maior prioridade para os quais, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), devem ser desenvolvidas novas terapias.