22 de Julho de 2016 Um estudo liderado por um cientista português ajuda a perceber perturbações no cérebro que levam algumas pessoas a não parar de fazer movimentos e outras a não conseguir manter uma ação, contribuindo para encontrar formas eficazes de tratamento. «Além de percebermos a fisiologia do que se passa no cérebro, no dia a dia, [este trabalho] dá um nova visão, apoiada pelas doenças neuropsiquiátricas, de como podemos tratar doenças do movimento e doenças psiquiátricas», disse à agência “Lusa” Rui Costa, do Centro Champalimaud, que liderou a investigação. As pessoas que sofrem de transtorno obsessivo-compulsivo não conseguem parar de executar certas tarefas motoras, como lavar as mãos, enquanto aquelas afetadas por perturbação de hiperactividade e deficit de atenção, não conseguem sustentar a mesma ação motora, durante muito tempo, explica uma informação hoje divulgada pela Fundação Champalimaud. Rui Costa descreveu à “Lusa” o trabalho desenvolvido e que tem como autor principal Fatuel Tecuapleta, agora a trabalhar na Universidade Nacional Autónoma de México, na Cidade do México. «Há uma grande necessidade de compreender porque decidimos fazer umas coisas e não outras, o que determina a opção por uma ação e não por outra e por parar o que estava a fazer», referiu. Muitas das doenças que afetam a área do cérebro chamada gânglios da base, explicou, implicam problemas em que as pessoas ficam muito repetitivas a fazer só uma coisa, como as compulsões na doença de autismo, nas adições, ou em que a pessoa está sempre a mudar, como a hiperatividade ou a esquizofrenia. São duas as vias principais para a obtenção do movimento nestes casos: uma via direta e uma via indireta, e os especialistas pensavam que a via direta era para fazer o movimento e a indireta para parar, como se «uma fosse o acelerador e a outra o travão». Mas, salientou Rui Costa, afinal, «uma é a que está a dizer o que fazer e a outra aprova ou não» e são as duas necessárias. Em caso de existir um problema, como a hiperatividade, «a pessoa gostava de se focar e continuar a fazer a atividade, mas, de repente, o cérebro está sempre a mudar, não consegue focar-se ou ter atenção a uma só coisa» e, neste caso, «pensamos que a via indireta está perturbada», explicou o cientista do Centro Champalimaud. Ao contrário, nas doenças em que há compulsão, adição ou comportamento repetitivo e a pessoa não consegue parar, «a via direta estaria a dizer vou continuar a fazer isto e a via indireta não consegue vetar», continuou. Assim, o estudo permite concluir que, em vez de um acelerador e de um travão, existiria um proponente e um aprovador. «É um desequilíbrio entre a atividade» destas duas vias e «a nossa esperança é que modificações subtis desse equilíbrio possam restabelecer» a normalidade, resumiu o cientista, que vai continuar o trabalho para perceber o funcionamento do cérebro, mas também vai, «provavelmente em colaboração com farmacêuticas, tentar perceber como é que se consegue usar isto para melhorar terapias». |