Cientistas testam administração oral de insulina com microagulha dissolúvel no estômago 1190

Cientistas testaram com sucesso, em porcos, a administração oral de insulina, através de uma microagulha contida numa cápsula, cuja ponta de insulina sólida se dissolve no estômago.

Num comunicado da agência “Lusa”, informa-se que o novo dispositivo, criado com o propósito de facilitar a toma da medicação, foi desenvolvido e testado por uma equipa de investigadores do hospital Brigham, do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), nos Estados Unidos, e da farmacêutica Novo Nordisk, com sede na Dinamarca, e considerada líder no tratamento da diabetes com insulina.

Numa experiência efetuada com cinco porcos, a equipa verificou que, após a administração oral das cápsulas com microagulhas com 0,3 miligramas de insulina humana, combinada com uma outra substância, o óxido de polietileno, os níveis de glicose no sangue baixaram para concentrações comparáveis às resultantes quando a insulina foi injetada subcutaneamente em cinco controlos.

Para criarem a cápsula – do tamanho de um mirtilo – que contém a microagulha que pode ser engolida e então injetar a insulina no estômago, aparentemente sem causar danos no organismo, os cientistas inspiraram-se na tartaruga-leopardo, nativa de África e cuja carapaça lhe permite endireitar-se quando se vira ao contrário. Desta forma, afirmam ter conseguido, recorrendo a modelação computacional, uma forma que possibilita a cápsula «aterrar» no estômago sempre na mesma direção.

A microagulha dentro da cápsula é feita, na ponta, de insulina liofilizada (desidratada). A haste, que não penetra na parede do estômago, é biodegradável, tal como a cápsula. Dentro da cápsula, a microagulha está «agarrada» a uma espécie de mola comprimida que se mantém posicionada no sítio devido a um disco de açúcar. Ao ser engolida a cápsula, a água no estômago dissolve o açúcar, libertando a tal «mola» e a agulha é injetada na parede do estômago.

Na experiência, os cientistas concluíram que a insulina demorou cerca de uma hora a entrar completamente na corrente sanguínea e sugerem que um dispositivo semelhante poderia ser utilizado para «transportar» medicamentos injetáveis como os imunossupressores, usados para tratar doenças inflamatórias como a artrite reumatoide. Os autores do estudo informam que os doentes com diabetes do tipo 2 não sentiriam a injeção no estômago, já que este órgão não tem recetores de dor.
Segundo os cientistas, cujo trabalho é divulgado pelo MIT e pelo hospital Brigham, não foram detetados sinais de lesões no estômago ou alterações na alimentação e nas fezes dos suínos. Apesar dos resultados bem-sucedidos, os investigadores salvaguardam que mais estudos terão de ser feitos, uma vez que o dispositivo só funcionou com animais em jejum.

Ainda não foram também aferidos eventuais efeitos gástricos crónicos, apesar de, assinalam, o estômago ser um órgão insensível à «dor pontiaguda» e «muito tolerante a objetos pequenos e pontiagudos».