Código de ética foi para publicação com alterações, FNAM diz que lei da rolha se mantém 611

Código de ética foi para publicação com alterações, FNAM diz que lei da rolha se mantém

8 de julho de 2014

O Código de Conduta Ética foi ontem enviado para publicação em Diário da República, com «quase todas» as sugestões acatadas, mas sindicato diz que lei da rolha se mantém e pondera recorrer a tribunal para impedir que seja publicado.

Em comunicado divulgado ontem, a tutela revela que, durante o período de apreciação pública, que decorreu até ao passado dia 4, «foram enviados contributos dos mais variados quadrantes sendo que, de todas as ordens profissionais do setor da saúde, apenas a Ordem dos Médicos e a dos Farmacêuticos apresentaram contributos e sugestões de redação, quase todas acolhidas na forma final».

«Recolhidos contributos, esclarecidas dúvidas e desfeitos receios infundados, reitera-se mais uma vez que o Código de Conduta Ética visa constituir-se como um guia orientador para as instituições que o aplicarão da forma que considerarem mais adequada», afirma o comunicado, citado pela “Lusa”.

O Ministério reitera que esta proposta de modelo de código «não pretende, nem nunca pretendeu ser um código de censura» sobre opiniões, mas sim uma proposta para a «eliminação de comportamentos passíveis de censura pública e que prejudiquem os utentes do SNS».

Opinião diferente tem a Federação Nacional dos Médicos (FNAM), que promete desenvolver «todos os esforços no plano reivindicativo e no plano das instituições judiciais, para impedir que este anteprojeto indigno de um Estado Democrático possa ser publicado».

A criação do código de ética gerou polémica, tendo levado os médicos a apelidá-lo de “lei da rolha”, por considerarem que tinha como objetivo a criminalização de denúncias, inibindo, desta forma, os profissionais de saúde de falarem.

Na altura, a Federação Nacional dos Médicos (FNAM) tomou uma posição pública sobre os «vários aspetos gravosos» do conteúdo do documento.

Numa nota divulgada no seu sítio na internet, a FNAM recorda que, após a polémica, o ministro da Saúde «terá afirmado numa sessão da Comissão Parlamentar da Saúde que “todas as expressões que pudessem ser entendidas como limitações seriam retiradas”».

«No entanto, a leitura da versão colocada em discussão pública permite verificar que houve uma mera reformulação da terminologia e das chamadas expressões, mas o objetivo continua a ser o mesmo e continua a estar lá bem expresso», consideram.

Como exemplo refere a invocação de «”prejuízo à imagem ou reputação da [entidade]”», como sendo o «suficiente para determinar a violação do sigilo e da confidencialidade».

«E uma formulação deste tipo permite tudo o que seja ações persecutórias e a aplicação da “lei da rolha”», afirma.

A FNAM sublinha ainda que existe outra alínea que estabelece que «o dever de confidencialidade mantém-se mesmo após a cessação de funções», considerando «escandaloso que se tornem vitalícias disposições que permitem todo o tipo de ações persecutórias».

O sindicato considera ainda ser «redundante» e «injustificável» a criação de um anteprojeto sobre «códigos de conduta ética», num setor como a saúde, em que «diversas profissões dispõem de ordens profissionais que têm como uma das suas principais atribuições e competências a definição de códigos de ética e de deontologia».

«Os médicos têm há muitas décadas um código de ética e de deontologia enquadrado nas funções e competências legais da Ordem dos Médicos», lembra, sublinhando que esta versão do documento, que está agora para publicação em Diário da República, «mantém a essência do mesmo objetivo, ou seja, estabelecer um impedimento grosseiro do exercício do direito à liberdade de expressão disfarçado de um aparente código de ética».