No dia 18 de junho celebrou-se o Dia do Orgulho Autista, que pretende promover a consciencialização, compreensão e aceitação do autismo.
Em entrevista ao NETFARMA, Telma Almeida, professora auxiliar no ISPA- Instituto Universitário de Ciências Psicológicas, Sociais e da Vida, em Lisboa, e investigadora que se tem focado em melhorar técnicas de entrevistas investigativas para vítimas e testemunhas vulneráveis no sistema de justiça criminal, além de redefinir a compreensão das capacidades de memória em crianças autistas, deixa algumas estratégias para colocar em prática nas farmácias para um melhor atendimento das pessoas autistas.
Como atender (melhor)
Os farmacêuticos podem desempenhar um papel essencial na melhoria da vida das pessoas autistas “através de um atendimento empático e informado”, esclarece Telma Almeida, explicando que, “primeiramente, é crucial acompanhar os avanços científicos sobre o espectro do autismo e utilizar a terminologia correta”.
Neste sentido, explica que, atualmente, “a comunidade autista prefere a linguagem de “identidade primeiro”, pelo que devemos adaptar a nossa linguagem para refletir o respeito pela dignidade das pessoas autistas”.
É igualmente importante que os farmacêuticos recebam formação específica sobre o autismo e aprendam a identificar sinais. “Esta formação permitirá adaptar as suas abordagens, tornando-as mais inclusivas e compreensivas. É fundamental compreender que o autismo é uma condição de neurodesenvolvimento (não uma doença), e que as pessoas autistas processam a informação de maneira diferente das pessoas não autistas. O autismo é um espectro com diferentes necessidades de apoio; cada pessoa autista é única, e as abordagens devem ser personalizadas”, explica a investigadora.
Assim sendo, recomenda:
– “Estabelecer uma relação de confiança com os pacientes autistas e com as suas famílias, de forma a conhecer as características daquela pessoa em particular. Isto pode ajudar a reduzir a ansiedade durante as visitas à farmácia.”
– “Utilizar uma linguagem clara e simples ao falar diretamente com os pacientes, evitando jargões médicos complexos, para criar um ambiente mais acolhedor.”
– “Sempre que possível, pode ser muito benéfico reduzir estímulos sensoriais na farmácia, como luzes brilhantes e ruídos altos. Esta abordagem não só facilita a comunicação e a interação, mas também promove um atendimento mais eficaz e respeitador das necessidades únicas das pessoas autistas.”
– “Treinar a equipa para reconhecer sinais de autismo e adaptar a comunicação, utilizar uma linguagem clara e direta, pode fazer uma grande diferença.”
– “Oferecer um espaço de espera mais calmo e, se possível, permitir agendamentos em horários menos movimentados, pode ajudar a minimizar o stress e a ansiedade durante as visitas à farmácia.”
O que fazer em caso de crises
“Se um farmacêutico encontrar uma pessoa autista em crise, é essencial manter a calma e oferecer apoio de forma não invasiva”, esclarece Telma Almeida, acrescentando que se “deve dar espaço e tempo à pessoa para se acalmar, evitando toques desnecessários, que podem aumentar o desconforto”.
A investigadora aconselha ainda a “utilizar uma voz calma e tranquilizadora e a perguntar se há algo específico que possa ajudar. Se possível, afastar a pessoa de estímulos sensoriais intensos e, se necessário, contactar um familiar ou cuidador para assistência adicional”. Sendo que “o mais importante é ser paciente, compreensivo e não invasivo durante todo o processo”, reforça.
Como aprender mais sobre autismo
Para aprofundar os conhecimentos sobre autismo, os farmacêuticos podem “participar em formações específicas sobre o tema, oferecidas por instituições como o ISPA e a Associação Portuguesa Voz do Autista (APVA)”, informa Telma Almeida, sublinhando ainda que “ler literatura científica atualizada, participar em workshops e conferências sobre autismo e envolver-se em grupos de apoio e redes profissionais dedicadas ao autismo também são excelentes maneiras de ganhar uma compreensão mais aprofundada e prática sobre como melhor apoiar esta população”.
Evento amanhã no ISPA
Para assinalar o Dia do Orgulho Autista, o ISPA, em parceria com a APVA, realizará um evento, amanhã, que visa desmistificar estigmas e oferecer um espaço seguro para a expressão criativa autista, com diversas atividades artísticas e formativas.
O evento irá decorrer no ISPA entre as 10 e as 17 horas e a entrada é gratuita.