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Comprimido placebo aliviou dor de doentes com lombalgia crónica

28 de Novembro de 2016

Um estudo concluiu que um comprimido placebo pode aliviar a dor de doentes com lombalgia crónica, levando a investigadora responsável a alertar para a necessidade de voltar a valorizar a relação médico-doente.

«As pessoas que tomaram o comprimido placebo, sabendo que era um placebo, obtiveram um alívio da dor na ordem dos 30% por comparação com um grupo controlo que eram pessoas que continuaram o seu tratamento habitual», disse à agência “Lusa” Cláudia Carvalho, investigadora do ISPA-Instituto Universitário.

«Penso que este estudo alerta para a necessidade de se revalorizar a relação médico-doente porque ela contém em si o potencial de despoletar o efeito placebo» com alívio sintomático, defendeu.

O trabalho, que foi publicado na revista científica internacional da Associação Internacional para o Estudo da Dor (IASP), pretendia testar a eficácia da utilização do que se designa o “placebo honesto”.

«Queríamos saber se as pessoas tomando este comprimido que não tem substância ativa, experimentariam alívio dos sintomas», neste caso, se pessoas que sofriam de lombalgia crónica teriam alívio da dor e da incapacidade associada à dor, explicou a investigadora.

Os doentes foram divididos em dois grupos, um com pessoas que faziam o seu tratamento habitual, com analgésicos e anti-inflamatórios consoante as suas necessidades, e outro que, além do seu tratamento habitual, tomavam o comprimido placebo todos os dias, durante 21 dias.

O efeito placebo, explicou, é muito mais do que a simples toma do comprimido e «há vários fatores que o despoletam», sendo definido como o efeito positivo de alívio sintomático da toma desse comprimido.

«Pensamos que o efeito placebo tem a ver com vários fatores que ultrapassam a simples toma do comprimido, tem a ver com o ritual terapêutico, com a esperança engendrada no paciente, com a qualidade da comunicação médico-paciente, com a resposta de condicionamento que é ativada quando a pessoa toma uma cápsula», especificou Cláudia Carvalho.

Esta situação relaciona-se com uma aprendizagem prévia, realizada ao longo da vida, de que a toma do fármaco gera alívio.

«É essencialmente psicológico, há aqui um pressuposto de que mente e corpo estão, de algum modo, relacionados», adiantou a investigadora.

A cientista do ISPA recorda a importância da relação médico-doente, estudada nas faculdades de medicina, mas pensa que «se perdeu algum do valor que se dá a essa relação devido à tecnologia médica».

Ao mesmo tempo que os «avanços fantásticos» da medicina, disse, «houve uma certa perda na qualidade da relação, [pois] os médicos têm um tempo de consulta muito limitado, têm de cumprir imensa burocracia, durante a própria consulta têm de olhar para o computador».

No entanto, o contacto médico-doente «tem valor terapêutico em si mesmo», realçou Cláudia Carvalho.

O efeito placebo é a melhoria do paciente através de fatores que «não são os do princípio ativo do fármaco ou do procedimento terapêutico, são fatores não específicos», que têm a ver com a relação médico-doente e com o ritual terapêutico, referiu a investigadora, acrescentando que o efeito placebo está intimamente relacionado com a expetativa de melhora.

O estudo envolveu 97 pacientes com lombalgia crónica há, pelo menos, três meses.