Comprimido que propõe aumentar libido feminina pode ser aprovado pela FDA 18 de Agosto de 2015 O comprimido cor-de-rosa Addyi, que propõe aumentar a libido feminina especificamente na pré-menopausa, poderá ser aprovado hoje pela Food and Drug Administration (FDA), depois de já ter chumbado duas vezes devido aos seus efeitos secundários e à sua taxa de eficácia.
Os especialistas ouvidos pelo “Público” não acreditam que seja desta que as mulheres passam a ter à disposição um “Viagra feminino”.
A diferença, agora, é que foi recomendado maioritariamente por um painel de especialistas (18 contra seis) e a FDA habitualmente leva em conta as sugestões destes peritos, apesar de o parecer não ser vinculativo.
Mas o comité de especialistas é o primeiro a destacar que os resultados são moderados e a chamar a atenção para os efeitos secundários, como sonolência, náuseas e tonturas. Os resultados dos ensaios clínicos também não são propriamente animadores: as mulheres que tomaram diariamente o fármaco indicaram ter tido 4,4 relações sexuais satisfatórias num mês, contra 3,7 das do grupo que ingeriu apenas um placebo. Antes do tratamento, a frequência era de 2,7.
Os especialistas contestam, no entanto, a designação de “Viagra Feminino”. «O mecanismo é completamente diferente, não tem nada a ver com o Viagra», defende o psiquiatra e sexólogo Francisco Allen Gomes, que recorda que o laboratório que começou por investigar esta substância – o alemão Boehringer Ingelheim – acabou por desistir dela, quando a FDA a rejeitou pela primeira vez, em 2010. «O Viagra serve para aumentar a excitação, não o desejo, que é algo mais complexo e não depende só da genitalidade», acentua.
«Este medicamento é um bom case study, há anos que anda a lutar para ser aprovado, enquanto o Viagra foi aprovado à primeira», compara. «O que esta história demonstra é a dificuldade que a Indústria tem de compreender os mecanimos que explicam as disfunções femininas. O pénis toda a gente sabe como funciona, está à mostra. Já do lado oposto, há todo um mistério, embora agora comece a ser mais fácil de perceber [o que se passa] graças às ressonâncias magnéticas», diz o médico. O cerne do problema, considera, é «a falta de disponibilidade».
«O que o Viagra resolve é o problema da ereção, não o do desejo», corrobora Gabriela Moita, psicóloga especialista em sexologia. Sobre o novo medicamento, prefere dizer, cautelosa: «Vamos ver… Se resolver [este problema], é excelente, mas seria uma enorme surpresa». Porque Gabriela Moita também está convencida de que a diminuição do desejo sexual tem sobretudo a ver com a «falta de disponibilidade». «As mulheres têm três mil coisas para fazer, o que resulta numa canseira enorme ao fim do dia. E sem disponibilidade não há espaço para o desejo», justifica. O que está aqui em causa, prossegue, é mais um problema de «estilo de vida, de más relações e de muitos outros fatores». |